João Pessoa, 10 de maio de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Rita Lee ontem fez a sua passagem. Alguns momentos da sua luta contra o câncer foram compartilhados em redes sociais e várias questões me chamaram a atenção. É importante falar da morte da artista e de todas as sutilezas e singularidades que o último período de vida pode ter significado para Rita e familiares e o que a morte dela nos ensina.
O tratamento contra o câncer envolve aspectos muito dolorosos, físicos e psíquicos, onde o sujeito é invadido por um objeto estranho, que dilacera e rompe a dimensão imaginária daquilo que convencionamos chamar de corpo. Este processo, traumático em sua essência, faz com que nos deparemos com os limites deste corpo e, acima de tudo, com a finitude, o luto e com a morte.
E a artista parece ter enfrentado este processo com resiliência. Após escrever sua autobiografia em 2016, ela mesmo afirmou que achava que já tinha acontecido tudo na sua “vidinha besta”. Eis que chega a irrupção traumática de uma pandemia e de um diagnóstico oncológico! O anúncio de “Outra autobiografia”, a ser lançada nos próximos dias, mostra que Rita recorre à escrita, talvez para elaborar aquilo que escapa de toda e qualquer possibilidade de simbolização, uma espécie de quimioterapia pela palavra. Foi a saída que a cantora dos extremos escolheu para lidar com o gosto do azedo ou com aqueles momentos que “a gente se olha e não sabe se vai ou se fica”, como ela própria canta em Coisas da Vida (1976).
Os últimos momentos não foram de sombra e água fresca, mas apontam para o estatuto de dignidade diante da morte. Rita fechou o seu ciclo terreno, ao lado da família, recebendo o carinho do público e homenagens em vida. Viveu seu sonho de ser imortal e mostrou que teve saúde para gozar no final. Afinal, é diante da finitude que sempre nos reposicionamos diante da vida. E isso é um luxo.
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TURISMO - 19/12/2024