João Pessoa, 22 de abril de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O desempenho da candidata de extrema-direita Marine Le Pen no primeiro turno das eleições francesas deixou a campanha no país totalmente em aberto. Com quase 20% dos votos neste domingo, Le Pen pode determinar o resultado do segundo turno entre o favorito socialista François Hollande e o atual presidente, o conservador Nicolas Sarkozy. Hollande bateu Sarkozy por cerca de 28,5%, contra 26% dos votos, segundo projeções confiáveis, com um terço dos votos computados. Os dois vão disputar o segundo turno em 6 de maio.
Os 19,6% de Le Pen foram a sensação do pleito, melhor que o resultado do pai da candidata, Jean-Marie, em 2002. Ela obteve boa vantagem sobre Jean-Luc Melenchon, candidato de esquerda, que ficou com 11%. François Bayrou, de centro, ficou em quinto, com menos de 9%. Marine Le Pen, que lidera o partido anti-imigração Frente Nacional, defende cota de empregos para franceses, num momento em que o desemprego está em alta no país. Ela também quer abandonar o euro e devolver o comando das finanças francesas a Paris.
– Esse primeiro turno é o início de uma ampla união dos patriotas de direita – disse ela a seus eleitores no comitê de campanha, sem anunciar apoio a nenhum candidato. – Nada será igual de novo.
O resultado de Le Pen reflete a ascensão de partidos populistas de oposição ao sistema em países da zona do euro. As pesquisas mostram que cerca de metade dos simpatizantes da Frente Nacional apoiaria Sarkozy no segundo turno, o que faz de Le Pen personagem importante na continuação da campanha. De acordo com pesquisas feitas antes do primeiro turno, Hollande teria uma liderança de mais de 10 pontos sobre Sarkozy para a votação decisiva de maio.
– Não está nada decidido ainda – disse o ministro das Relações Exteriores Alain Juppé, um dos aliados mais próximos de Sarkozy.
Sarkozy, de 57, tem se descrito como a opção mais segura para liderar a França e a zona do euro durante a atual crise, mas a votação deste domingo parece ter sido uma rejeição enfática a seu estilo e a seu desempenho na economia. Se Hollande vencer em 6 de maio, a França vai se juntar a uma minoria de países governados hoje pela esquerda na Europa. O socialista prometeu priorizar o crescimento econômico na zona do euro, adicionando cláusulas pró-crescimento no tratado europeu de disciplina orçamentária.
A perspectiva de renegociação do pacto causa preocupação nos mercados financeiros, assim como o foco de Hollande em aumento de impostos, em vez de austeridade fiscal. Caso derrotado, Sarkozy seria o 11º líder da zona do euro a deixar o poder desde o início da crise em 2009. Seria também o primeiro presidente francês a não se reeleger em mais de 30 anos. Hollande, de 57 anos, promete cortes de gastos menos dramáticos que Sarkozy e quer maiores impostos sobre os ricos para financiar a criação de empregos com ajuda do Estado, especialmente um imposto de 75% sobre rendimentos acima de um milhão de euros.
Ele seria o segundo presidente da esquerda francesa desde a fundação da Quinta República, em 1958, e o primeiro desde François Mitterrand, que derrotou Valéry Giscard-d’Estaing em 1981. Hollande pediu a seus simpatizantes que não se omitam, ciente do fiasco da esquerda em 2002, quando um comparecimento pífio recorde em todo o país fez o candidato socialista ser eliminado ainda no primeiro turno pela extrema direita. O comparecimento as urnas foi forte, com 78,7%.
Os colégios eleitorais da França abriram as suas portas às 8h (3h no horário de Brasília) para o primeiro turno das eleições presidenciais. O primeiro dos candidatos a votar foi François Bayrou, do partido MoDem, por volta das 9h45, em Pau, no sudeste da França. François Hollande realizou seu voto às 10h10, em um colégio eleitoral em Tulle.
Já o presidente Nicolas Sarkozy votou no XVI Distrito de Paris, acompanhado da primeira-dama Carla Bruni, por volta das 11h30. Ao deixar a seção eleitoral, Sarkozy cumprimentou eleitores e pediu desculpas pelo "ruído" causado pela multidão de jornalistas que o acompanharam.
Em embaixadas e consulados estrangeiros da França a votação começou no sábado.
O Globo
OPINIÃO - 22/11/2024