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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

Grilo na cuca

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publicado em 21/05/2023 ás 08h32

Sempre fui chegado a casas de fazenda, mato, sítio, granja. Uma das coisas que mais me encanta nesse mundo verde em particular é o barulho do grilho à noitinha nos embalando como uma canção de ninar brejeira. Tem gente que odeia. Moro nas alturas, em apartamento e sempre achei interessante não chegar insetos lá pra cima. Eis que dentro da minha nostalgia, mês passado comecei a ouvir um som peculiar:  pri, pri, pri, pri… Um grilo! Isso mesmo, um grilo.

Rapidamente me veio Clarice Lispector na mente, onde sua personagem G.H. divide o protagonismo da obra com o quarto da empregada doméstica, pois apostava na imundície que ela haveria deixado por lá e na verdade o quarto estava vazio e límpido, mas, com o aparecimento de uma barata, toda a reflexão da personagem se inicia. Ao sentir o vazio do quarto e ao avistar a barata, G.H. passa a pensar diferente sobre sua existência e a solidão, gerando um conflito com as suas angústias e medos, surtindo uma tensão psicológica. Eu também entrei em conflitos internos. Primeiro comecei a imaginar como um grilo veio parar no alto de um prédio.

Qual processo utilizou para chegar até aqui. Não compro planta há três meses, o elevador não abre diretamente na minha varanda, os grilos não voam, apenas pulam. Que mistérios tem Clarice? Que nada! Que mistérios tem esse grilo? Confesso que fiquei feliz e o visitava todas as noites. Falava pra ele que me sentia feliz de ele estar ao meu lado e cantar pra mim. O envolvente grilo que vivia na área aberta com plantas parece que entendeu e passou duas semanas dentro do meu quarto. O mais interessante é que falei pra ele que não precisava ser tão perto, que, ou ele baixava o som ou ele iria para o banheiro já que é uma suíte.

Gente, já tem uma semana que meu amigo grilo está no meu banheiro e segue cantando magistralmente enquanto pego no sono jurando que estou à beira de um riacho. Me sinto grilado, pois não sei como sobrevive tanto tempo num banheiro inóspito, também não sei quanto tempo de vida tem esse grilo. Mas de uma coisa tenho certeza, não comerei o inseto, apesar de hipernutritivo, deixo esse fato apenas para a personagem da Lispector. 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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