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(para jória guerreiro)
Duas artes harmonizam a visibilidade do longa “Quando Falta o Ar”, em cartaz no Cine Banguê, das cineastas irmãs Ana e Helena Petta. O filme traz o registro da luta de mulheres na linha de frente do SUS, durante o combate à pandemia de Covid-19. Ok, vamos em frente.
No ambiente de “A Peste”, de Albert Camus, uma frase dele ilustra o documentário, e serve, muito apropriadamente, para enaltecer os profissionais do SUS: “há nos seres humanos mais coisas a admirar do que desprezar”, indicava Camus.
Quando Falta o Ar revela a face humana da luta coletiva contra a Covid-19 em entrevistas com médicos, enfermeiros e agentes comunitários.
Ao “Acender as velas”, quando já é procissão, Martinho da Vila, (que entrevistamos a semana passada), canta com Chico César – que “a gente morre sem querer morrer”. Esqueceu? Ninguém esquece.
A segunda cena do “Quando Falta o Ar”, nos deixa feliz por instantes, quando uma enfermeira anda de costas falando em Billie Holiday – e, já no espaço da agonia, ela bota para tocar no celular “Strange Fruit”, que Billie Holiday gravou em 1939, quando tinha 23 anos.
A letra é um protesto pelo linchamento de negros americanos no sul do país, comparados na poesia de Abel Meeropol a frutos “estranhos” pendurados em árvores. A canção é linda, é triste, mas é linda.
“Strange Fruit” foi composta como um poema, escrito por Abel Meerop (um professor judeu). Ele a publicou sob o pseudônimo de Lewis Allan. Até hoje os negros são mortos pelos policiais americanos. Aqui não é diferente.
A terceira imagem da canção “Strange Fruit” não está no filme, nos remete para 2013, o livro de David Margolick (um dos melhores repórteres do New York Times) autor do best seller, Strange Fruit, the Biography of a Song, que trata da música e seu conteúdo na composição do filme “Quando o falta o Ar”. Essa parte é memória, aconteceu quando Caetano Veloso jantou na casa do jornalista Walter Galvão e sua mulher Jória Guerreiro.
Caetano recebeu de Galvão o livro Strange Fruit e, ao voltar ao Rio, na sua coluna no Jornal O Globo, CV escreveu que tinha ganho o livro de um amigo paraibano. E ainda disse, que a canção Strange Fruit ele havia cantado em seu primeiro show, em Salvador.
Esquece a agonia, as cineastas fizeram a parte delas. Saúde, religiosidade, a desigualdade social e o racismo estão nos 81 minutos do filme.
O documentário apresenta registros de equipes em São Paulo (Hospital das Clínicas), Recife (UBS do Morro da Conceição), Pará (Hospital Municipal de Castanhal, Igarapé Miri) e Salvador (Complexo Penitenciário Lemos de Brito).
No filme, tem a cena da canoa, particularíssima, como a vida é, um sopro.
Kapetadas
1 – Pau que nasce torto, nunca se endireita, menina que requebra, mãe pega na cabeça ombro joelho e pé, joelho e pé..
2 – E se disserem que o certo é terraplenagem, perguntarei por que esse termo, se é tão pleno, não deu, de plano, conta do recado.
Escute aqui Billie Holiday-Strange fruit- HD
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OPINIÃO - 22/11/2024