João Pessoa, 02 de junho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Demorei a me render a Succession. Não conseguia sentir empatia pelos minúsculos dramas de uma gente minúscula, com bolso maiúsculo. Para quem passa muitos domingos estudando, encerrar o dia com um episódio de Succession é até uma afronta, vendo pessoas que não são sérias, mas têm poder. Persisti nos episódios. E diante do texto formidável, das atuações magníficas e das boas reviravoltas, terminei aplaudindo de pé.
Com tanto sucesso, deve-se considerar um privilégio ver a série encerrada por vontade de seus criadores. Poderiam arrastar a jornada dos personagens por longas temporadas, aumentando a rentabilidade e diminuindo a qualidade do show. Quatro temporadas foram suficientes para acompanharmos a disputa pelo trono da Waystar, um conglomerado de mídias fictício, comandado por Logan Roy. A série é guiada por uma pergunta: quando o magnata se aposentar, quem assumirá seu posto? Algum de seus filhos, desequilibrados e ambiciosos, ou um outro executivo poderoso?
Succession usa o poder para falar de relações humanas. “Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”, diria Nelson Rodrigues. Será? É isso que pensam as muitas mulheres que teve Logan Roy? E seria Shiv, a filha de Logan, munida de dinheiro, conhecimento e poder, a antítese ou a evidência máxima desse pensamento? Afinal, ela não consegue comprar sequer uma relação pessoal com alguma honestidade.
Outros escritores compactuam com a ideia de que dinheiro e afeto são intercambiáveis. Até o eu-lírico de Maiakovski, que se dizia todo coração, há de concordar: “Os adultos fazem negócios. / Têm rublos nos bolsos. / Quer amor? Pois não! / Ei-lo por cem rublos!”. Em Succession, o dinheiro compra até o propósito de vida de alguns personagens, mas o amor… Nem todo adulto sabe negociá-lo.
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OPINIÃO - 22/11/2024