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Fruta do dragão

Produção da pitaia ganha espaço na Paraíba e transforma agricultura familiar  

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publicado em 04/06/2023 ás 08h11
atualizado em 05/06/2023 ás 09h18
José Marcos investiu na plantação de pitaia após uma série de estudos (Foto: Juliana Santos)

Texto: Michelle Farias 

Fotos: Juliana Santos 

 José Marcos Souza da Silva, de 30 anos, cresceu vendo o pai retirar da terra o sustento da família, na zona rural de Mari. Deixar o campo nunca foi uma opção para ele, mas a falta de oportunidades e baixa valorização da agricultura familiar causaram inquietação. A vontade de empreender e provocar mudanças na realidade da comunidade local o levaram a pesquisar e investir em capacitação. Há cinco anos ele, o pai e o irmão produzem a pitaia, fruta exótica conhecida como “fruta do dragão”.  

Na propriedade da família são cultivados 37 tipos diferentes de pitaia em uma área de oito hectares. A decisão de cultivar a fruta ocorreu após um longo período de estudos e sucessivas perdas acumuladas com o plantio da mandioca, popular na região e que já não era rentável. As pesquisas começaram quando ele concluiu o ensino médio e eram feitas no celular mesmo, através da internet por dados móveis.  

A fruta exótica, originária da América Central, causou estranheza em seu pai, o agricultor Claudionor Cosmo da Silva, de 59 anos. Inicialmente Marcos adquiriu 30 mudas de um produtor do estado de Santa Catarina, no período de inverno, quando as mudas ficaram mais baratas. Para cultivar a pitaia ele fez um curso sobre o plantio, já que não tinha conhecimento sobre o processo. Trabalham hoje na propriedade, Marcos; o irmão, Jardel Souza da Silva, 31 anos, e o pai. 

“A gente sofreu um bocado na agricultura com o sistema de mandioca, cada ano que passava a produtividade lá embaixo. Quando eu saí do colegial eu decidi procurar uma cultura nova, que fosse favorável para cultivar aqui. Fui em busca de pesquisas, análises sobre onde ela se acostumava, clima, relevo, umidade relativa do ar. E encontrei algo que daria certo”, contou.  

José Marcos cultiva 37 tipos diferentes de pitaia na propriedade da família (Foto: Juliana Santos)

A plantação cresceu e atualmente conta com mais de 1.600 pés de pitaia. A maior produção foi de 800 kg, mas a projeção é de uma safra recorde entre o fim deste ano e o início de 2024, quando deve chegar a 1.200 kg. Após o plantio, a pitaia dá os primeiros frutos após oito ou nove meses, mas para alcançar o patamar comercial são necessários cerca de dois anos. Cada planta rende até cinco quilos da fruta e a maior safra ocorre entre o Natal e o Ano Novo, período em que também aumenta a procura da fruta.  

Marcos continua investindo nos estudos e capacitação. Como alternativa para produzir pitaia o ano inteiro, ele iniciou em parte do pomar testes de indução floral com luzes artificiais. As lâmpadas ficam acesas até as 23h. A intenção é ampliar o mercado e garantir melhores preços no período do inverno, quando o quilo da fruta chega a custar cerca de R$ 50.  

O produtor monitora a qualidade do solo e o mantém sempre rico e matéria orgânica, o que colabora para que a temperatura oscile entre 20 e 25 graus. No período vegetativo as plantas chegam a ficar até 15 dias sem irrigação, já durante a frutificação cada planta recebe até 15 litros de água por dia. “O fruto da pitaia é composto praticamente por água. É preciso ter água para chegar a um fruto de até 500 gramas. Já colhemos aqui fruta com 900 gramas”, conta. 

Produtor aposta na utilização de luzes artificiais para indução floral e produção da pitaia durante o inverno (Foto: Juliana Santos)

Ele lembra que o quilo da mandioca era vendido a R$ 0,25, enquanto o valor da pitaia é de cerca de R$ 20 o quilo, a depender do tipo. No mercado, o quilo da pitaia do tipo amazonas peruana, considerada a mais nobre, chega a custar R$ 80 para o consumidor.  

“É uma renda extra que a gente consegue respirar um pouco melhor, armazenar um pouco. Na agricultura, trabalhando com a mandioca, a gente não conseguia. Trabalhávamos eu, meu pai e meu irmão o ano todinho com sete hectares de roça, chegava o fim do ano o que a gente compraria era um sapato ou uma roupa. E muitas vezes saía no prejuízo, trabalhando debaixo de sol”, comentou. 

Os desafios de trabalhar com uma fruta ainda pouco conhecida na região são grandes, mas a pitaia tem conquistado espaço e atualmente Marcos vende a sua produção para a Grande João Pessoa, Mari, Sapé, Guarabira e Rio Grande do Norte.  

“A gente se sacrifica muito para fazer diferente. A gente tem o sonho de fazer diferente aqui na Paraíba. A gente quer gerar emprego. Tem muita área aberta e muita gente que sofre até para se manter na propriedade. O que tá faltando é a gente encontrar a melhor cultura, o melhor manejo para o nosso solo. A gente quer conforto para todas as famílias, não só as nossas”, José Marcos, produtor de pitaia. 

Oportunidade para jovens permanecerem no campo

Marcos perde as contas de quantos amigos deixaram a zona rural para tentar oportunidades em centros urbanos. O êxodo rural ainda é comum na região, mas o produtor aposta no conhecimento para fazer com que os filhos dos agricultores permaneçam no campo e busquem alternativas que gerem renda.  

Marcos quer criar condições para jovens permanecerem no campo (Foto: Juliana Santos)

“O ser humano só é ultrapassado quando ele não estuda, não se atualiza. Tem tanta gente que tem uma terra produtiva e não busca o melhor para sua terra”, avalia o produtor de pitaia. Ele cita como primordial para o sucesso de sua produção o apoio e orientação que recebeu do Sebrae, sobretudo na busca por compradores para a produção. Ele é atendido pelo programa Território Empreendedor Sustentável (SES) do Sebrae Guarabira.  

 “A grande dificuldade hoje não é plantar, é vender. O Sebrae nos ensina a embalar melhor, oferecer o produto, formar catálogo pra apresentar melhor”, afirmou.  

O próximo passo será a formalização da empresa, que já tem nome: Savanna Garden Fruit. Marcos tem como sócio o irmão Jardel e Ednaldo Lemes. Com CNPJ a pretensão é expandir as vendas e poder negociar diretamente com grandes redes de supermercado. Para a plantação também há planos. No próximo ano Marcos pretende iniciar a plantação de açaí e achachairú, fruta boliviana. “Hoje em dia o normal todo mundo faz. A gente tem que buscar algo no mercado que em cinco, seis anos, nos dê estabilidade”, frisou.  

Pitaia ainda é pouco conhecida pela população (Foto: Juliana Santos)

Programa incentiva empreendedorismo no território 

O programa Território Empreendedor Sustentável tem por objetivo incentivar o empreendedorismo no território, identificando os atores que têm contribuído com ações de desenvolvimento territorial. O trabalho reúne secretários municipais, universidades, sindicatos, cooperativas e associações. 

“Dentro desse processo o Sebrae tem sido catalisador, juntamente com membros do Banco do Nordeste. A gente une essas pessoas e começa a ver quais as potencialidades que podem ser prioritárias para o desenvolvimento do território”, explicou o analista técnico do Sebrae, João de Deus.  

Na região atendida pela agência do Sebrae em Guarabira foram identificadas quatro áreas com potencial para desenvolvimento: a piscicultura, com a criação de tilápias; a carnicicultura, com camarões; a apicultura e a meliponicultura 

“Foram feitas discussões e se chegou a um entendimento que o território tem condições climáticas favoráveis para produção de mel, peixe e camarão. Tem provocado um aquecimento econômico e a gente acredito que a médio prazo teremos resultados de referência”, disse João de Deus.  

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