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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Lanço glosas breves retornos 

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publicado em 06/06/2023 às 07h00
atualizado em 06/06/2023 às 04h17

Contra nós temos os dias, que passam voando. São mil variantes do sol nas bancas de revista.

Caetano Veloso voltou falar de seu desejo, de voltar pra Bahia: “Quero voltar a viver na Bahia e cantar lá toda semana – e venham à minha terra quem quiser me ver e ouvir cantar que venha à minha terra”. Iremos.

Contra nós temos o tempo, “compositor de destinos”, temos outra idade, um aviso que nos fora dito desde a Gênesis.

A saudade que nos afronta, o laço que nos tolda e nos faz seguir. Temos a proximidade, o meio e o fim.

A nosso favor, os amigos, a família, ou o outro a quem prestamos antes atenção que agora é a nossa vez de retribuir. Somos nós, nós por exemplo.

Contra nós, a realidade.

Mas e a nosso favor? Apenas nós mesmos e a criatura mais mítica que produzimos: a palavra, essa impossibilidade linda.

Os artistas na casa dos 80, eles resistem galvanizados. O “Caretano”, que Gilberto Gil disse na Veja, nunca se envolveu com drogas. Caetano é a glória da vida.

Como nunca, ainda estamos à solta e como sempre, querendo mais. Muito mais, muito mais. Nessa pegada ajuda, transmite. Faz lutar, acreditar na perseverança, na esperança, que não se encerra.

Não acredito que haja lugares onde as palavras devam estar, só nas canções e nos livros. Nada é da boca pra fora. Caetano sempre quis muito. Todos nós também.

Acredito que estamos libertos para podermos passar pelo viés,  num  piscar de olho, no prelúdio de um beijo, num livro, no feliz verso daquele poeta Pessoa, na voz de uma canção – alguém cantando perto daqui, na Bahia.

Morreram as revoluções, como nos ensina a história. Algumas vezes são a única coisa verdadeiramente relevante, como aconteceu com os famosos slogans do “Maio de 68”.

É sempre bom ir aos shows de Caetano Veloso e nos depararmos com a surpresa de “um amor assim delicado” do seu desejo eternizado numa Bahia,  de  todos os  santos, que não lhe sai do pensamento.

Outras palavras na cara do mundo, “vim te reconhecer” – o que não quer dizer que se façam ouvir e muitas vezes façam sentido. Sempre.

Há excesso de verbos e poucos substantivos nos nossos dias, uma libertação súbita e compreensível, mas que apenas nos ajuda a continuar sonhando. A palavra pela palavra e a canção pela vida ainda valem tanto, do que vale realmente, a poesia.

Kapetadas

1 – A vida é feita de pausas. Tava aqui pensando nisso enquanto faço Pilates.

2 –  Bom dia mas só pra quem sabe cantar todas do álbum Transa.

3 – Som na caixa” Onde está você agora?”, de Peninha

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB