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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

Uma escritora  esquecida    

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publicado em 07/06/2023 às 07h00
atualizado em 06/06/2023 às 14h15

 

         A literatura feminina paraibana é composta de poetisas, contistas, romancistas, cronistas, ensaístas, críticas literárias e historiadoras que produzem em alto nível, e ocupam relevante espaço no mundo das letras na Paraíba e País afora, mesmo que algumas não tenham o reconhecimento merecido.  

         Para não deixar de fora involuntariamente nomes, desejo neste breve texto lembrar apenas a jornalista, romancista e crítica literária Nevinha Pinheiro, e dela fazer memória porque, nos tempos atuais, poucos a conhecem e quase não é lembrada.     

         Natural da cidade de Serra da Redonda, quando jovem era dedicada aos estudos; estando com 17 anos buscou os espaços na Universidade, cursou Letras e Jornalismo. Ganhou o mundo das redações e dos livros, se fazia presente em eventos culturais relevantes no Rio de Janeiro.  

         Foi como jornalista, atuando na Imprensa carioca, que Nevinha conheceu ícones da literatura brasileira. Basta mencionar escritores de seu relacionamento como Carlos Drummond de Andrade, Josué Montello, Érico Veríssimo e outros nomes festejados no mundo dos livros, como Clarice Lispector, como alguns de seu relacionamento. Entrevistou e produziu análise de obras de alguns escritores e poetas que conquistaram espaço na história da literatura brasileira. Mas foi com Drummond que teve maior aproximação, mesmo que somente tenha sido com a troca de cartas.  

         Em abril de 1979, quando dava meus primeiros passos pelas redações, publiquei em O Norte um artigo que fazia referência ao seu romance A Crucificação do Diabo, em cuja leitura, hoje, tento rever as personagens esquecidas. O livro havia sido lançado na Livraria Leia naquele mês, com relativa aceitação.  

         Quando a entrevistei para o Caderno de Cultura de O Norte, ela falou de sua infância em Serra Redonda, de seu relacionamento com a Imprensa no Rio de Janeiro e das amizades com escritores, seus amigos diletos. Sobre a elaboração do romance em foco, disse que durante anos trabalhou na preparação do texto, e procedeu várias modificações do original, até sua publicação.  

         O enredo do romance gira em torno de um velho Deus e um velho Diabo que decidem, sem combinação prévia, entregar a direção do mundo aos seus herdeiros. Começam pelo Nordeste brasileiro e mostram tudo o que possuem.   

Tendo como temas centrais tipos de crianças despachadas, como chamamos no interior, mas que pode ser de qualquer parte do mundo, Nevinha inventou histórias sempre entrelaçadas com a vida cotidiana, com fanatismo e superstição. Abordou situações do mundo moderno, da sociedade contemporânea, o drama do consumo exagerado, o preconceito marcante e as tradições enraizadas na mentalidade de um povo tradicionalista por natureza. Ela usa a linguagem do cordel e situações de cantorias nas feiras nordestinas. “Tem muita curtição ao lado telúrico, verdadeiro, belo, puro e eterno do Nordeste brasileiro”, comentou na época.  

Naquele texto de 1979, escrevi que Nevinha Pinheiro chegou de repente, deu um pinote no meio da turma que estava cochilando, acordou a província para observar a produção literária feminina. Era um tempo em que Maria José Limeira reinava absoluta.  

A Crucificação do Diabo foi um desafio para a autora escrevê-lo, é um livro profundo, desafia os leitores. É um livro em busca de novos leitores.   

          

 

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