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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Cabeça doida, coração na mão

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publicado em 09/06/2023 ás 07h00
atualizado em 08/06/2023 ás 17h34

Tornou-se popular o causo do músico Totonho, que ambicionava ser o maior forrozeiro do nordeste. Contudo, quando conheceu a vizinhança, desfez o sonho. Morava na mesma rua de Flávio José. Pensou, então: “eu não vou ser o melhor forrozeiro nem da minha rua, quem dirá da Paraíba e do Nordeste.”

A deferência de Totonho é justíssima. Pena que não foi mantida pelos organizadores do Parque do Povo, em Campina Grande, que reduziram o show de Flávio José para ampliar o tempo de apresentação de Gusttavo Lima. Cabeça doida, coração na mão. Flávio lamentou: “Me disseram que eu só podia tocar 1h10min. Eu não tenho nenhum show para sair correndo pra fazer. […] Não foi uma ideia minha. Infelizmente, são essas coisas que os artistas da música nordestina sofrem, é isso.”

Longe de fazer juízo de valor em relação à música de Gusttavo Lima, ressalto que tudo tem hora e lugar. O sertanejo é um sucesso inquestionável de público, por exemplo, no Fest Verão, evento privado que acontece no mês de janeiro, em Cabedelo. No maior São João do mundo, festa do povo e para o povo, não necessariamente. Pode-se até expandir as escalas musicais para acolhê-lo, mas jamais diminuindo o forró. E. principalmente, sem desrespeitar um dos responsáveis por fortalecer expressivamente nossa cultura popular.

Festas populares só resistem por causa das tradições de cultura popular. E quando se fala de São João, essa tradição é transmitida por meio do ritmo do forró. Se o frevo caracteriza o carnaval de Olinda, é o forró que caracteriza o São João de Campina Grande. Foi no resfolego da sanfona de Flávio José que muitos casais arrastaram o pé e muitos jovens soltaram fogos. Não há atração nova que apague as raízes da nossa cultura.

É lastimável começar as festividades juninas desse modo, mas ainda há um mês inteiro pela frente para forrozear. O mundo é grande e o destino lhe espera, Flávio.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB