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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Uma peruca com franjas de sofá

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publicado em 13/06/2023 às 08h09
atualizado em 13/06/2023 às 05h39

 

No terceiro Sarau da casa da professora Zarinha, em minha participação, coloquei no meu coco, uma peruca que foi de Rita Lee. Enquanto ouvia os poemas declamados, fiquei matutando sem me importar com nada que me provocasse. Nada. Nem todo herói usa capa, né?

Antes de colocar a peruca, fiquei diante da vida como ela não é, sequer seria sem a ousadia de fazer o que poucas pessoas fazem, a partir da negação de que somos todos iguais naquela noite, mas não somos mesmo.

No espaço, o espelho invisível que Narciso jamais se olharia, ao me ver com a peruca de Rita Lee. Enquanto passava o som, fiquei lembrando dos meus amigos do sertão, todos machos, dos meus amigos caretas do litoral, ambos não entendem nada da performance de um beradêro feito eu, quase um precursor do dengos baianos.

 Se uma ideia passar pela vossa cabeça, não perca, nem que seja uma peruca! 

Para quem não é livre, apenas nas histórias que contam em mesas de festas, as mentiras a entremear os outros, bobos, tolinhos, mas eu que não sou artista, acho que poucos homens colocariam a peruca de Rita Lee na cabeça  e cantariam uma canção em homenagem a ela, “Desculpa o Auê”, viu?

 A leitura que faço da vida, como ela realmente é, cada com sua senha na espera de um lugar no céu, eu, um pecador azougado, do lado de lá da porta, passo sem ninguém me ver.

Eu seria capaz de cantar não só “Desculpa o Auê”, mas Baila Comigo, Alô, Alô Marciano, Tudo Vira Bosta etc.

Até imitaria o cosmonauta João Batista, que batizou Jesus, a perder de vista os seus milagres incrédulos. Ué, tergiversei?

Senti muito a falta do amigo François nesse último sarau, mas ele transcendeu antes da bomba explodir, sem intervalos de adeus. Conversei com Fraçois muitos delírios nos últimos três anos.

Muitos querem ser os primeiros a chegar a lado nenhum, e olha que estou contando isso, não só pela peruca, mas de uma forma sincera, porque “o certo é ser gente linda e dançar, dançar”

Eu posso até dizer que sou  astrofísico, mas é mentira. Aliás, a semana passada peguei uma pessoa que eu amava na mentira, mas eu já estava careca de saber.

Escrevo agora olhando para a peruca sobre a cabeça dos irmãos Karamázov,  aqui na estante, e não na cabeça da enceradeira e suas utilidades.

Pode ser, pode ser. Mas photoshop nenhum consegue fazer de mim o que eu próprio faço, porque cara a cara, sou mais macho que O Homem do Sapato Branco. E priu.

Kapetadas

1 – Muitas vezes, a pessoa bate de frente com o mundo para descontar o temor de bater de frente com outra pessoa: Ela mesma.

2 – Nove meses após o dia dos namorados, comemora-se o dia das puérperas.

3 – O Instagram é o fast-food da fotografia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB