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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Ganancia, azougue dos vigaristas

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publicado em 17/06/2023 às 07h00
atualizado em 16/06/2023 às 14h58

Admiro os vigaristas porque conseguem despertar no ser humano a vontade de levar vantagem sobre sua aparente ingenuidade. Não existiriam vigaristas se não houvessem trouxas querendo lucrar facilmente.
Diz-se que a palavra vigarista deriva de um golpe conhecido como conto do vigário. Teria sido originada em consequência da briga entre duas paróquias de Ouro Preto que disputavam a imagem de uma Santa. Um dos vigários propôs que colocassem a tal imagem em cima de um burro. Para a paróquia que o burro se dirigisse, ali ficaria a imagem. Acontece que o burro era de propriedade desse vigário, o vigarista, e para sua paróquia dirigiu-se o burro, ficando o vigário vigarista com a imagem.
Prefiro outra versão; portuguesa, que dá conta de um pequeno negociante de gado que vivia na região do Ribatejo e chamava-se Manuel Peres Vigário.
Pois muito que bem. Lá um dia foi ele procurado por um fabricante de notas falsas que queria livrar-se de umas notas de cem mil reis e as oferecia por vinte mil reis cada.
O Manuel verificou as notas e constatou que eram de péssima qualidade. Depois de muita discussão combinaram a venda de cada nota de cem mil reis por dez mil reis. Recheada a carteira, nosso herói tocou-se para a feira semanal onde encontraria dois irmãos que lhe vendiam o gado que comerciava. Devia a eles uma grana alta e era aquela a data para efetuar o pagamento. Marcou numa taverna à qual chegou uma hora depois do combinado, completamente embriagado. Os irmãos iam protestar porém ele ordenou que o taverneiro trouxesse vinho e continuou a beber, enquanto puxava a carteira para efetuar o pagamento. Os credores observaram que a carteira estava prenhe de notas de cem mil reis e ficaram mais impressionados ainda quando o bêbado lhes perguntou se aceitariam o pagamento em notas de 50 mil reis. Vendo o equívoco do Manuel e pretendendo lucrar com o erro recebendo o dobro, concordaram e não se negaram em lhe dar um recibo quitando a dívida. Porém, atendendo ao seu pedido, registraram que estavam recebendo a quantia em notas de 50 mil reis. Foram embora e deixaram o bêbado arriado sobre a mesa da taverna.
Dia seguinte, logo cedo, o Manuel foi conduzido à delegacia onde os irmãos e o delegado esperavam-no para ser preso por passar notas falsas. Manuel indignou-se e exibiu ao delegado o recibo onde constava expressamente que ele havia pago aos dois em notas de 50 mil reis. Como poderia ter falsificado notas de cem mil reis?
Gênio, hem?

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