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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Um thriller psicológico

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publicado em 18/06/2023 às 09h13

Vidas incompletas. O silêncio impera no documentário “Diga quem sou”, que o cineasta americano Ed Perkins realizou em 2019, com os irmãos (foto) Alex e Marcus Lewis. Na sua contundência urgente e necessária, o filme é belo e triste, de tal maneira avassaladora, que não cabem observações outras, senão a atenção do espectador diante de uma história várias vezes repetida, entre pais e filhos. Nunca sabemos quem somos.

Não se trata de revelar o que já sabemos, mas “Diga quem sou” é um retrato falado que além da relação entre pais e filhos. A noção de spoiler, por exemplo, não existe no documentário: tá na cara, desde as primeiras imagens.

Estamos todos nesse ciberespaço, muitos na lona, onde as descobertas não nos assombra, apesar de tratar de um documentário sobre uma mãe pedófila que abusava de seus filhos gêmeos, Alex e Marcus, e os compartilhava com amigos afins.

Silêncio no mundo não se escuta.

Uma mãe pode tudo, menos ser pedófila. Como pode uma mãe transar com os filhos de 12 aos 14 anos, deixando máculas que o tempo não apaga. Mãe é mãe, tem por obrigação proteger os filhos. Pai é pai não pode ser descabido.

Repito, não se trata de revelar ou não quem somos, mas de manter a verdade entre amigos e irmãos, uma tarefa dificil. Um drama, “baseado em fatos reais” como dizem os letreiros cinematográficos, que supera quaisquer veleidades, qualquer loucura, qualquer tragédia.

O filme se alonga além de uma hora e meia de duração. A questão é: o que você faria com seu irmão gêmeo, emergindo de três meses de um coma aos 18 anos, provocado por acidente de moto, completamente amnésico? O que você diria a ele, sobre o que se passou?

No hospital, Alex não reconhece a mãe, apenas o irmão. Em casa, Alex não reconhece o pai, nem a namorada, apenas o irmão.

A função da memória com um passado doloroso é inenarrável. E cabe ao irmão Mateus refazer a linha psíquica do seu gêmeo idêntico. O filme deveria terminar aí.

O diretor Perkins estica a ferida viva e acaba mexendo no emocional de quem está em cena ou está assistindo. É como se no espaço minimalista estivéssemos todos a discutir sobre o conhecimento de uma das situações mais graves – o abuso sexual praticado pela mãe.

Até onde queremos seguir e conseguimos, não se faz ideia de como os irmãos Lewis estão ali na tela, os dois perdidos em entrevistas reveladoras, sem a presença dos pais, que já morreram.

Uma imagem bruta – o Alex ainda dentro do útero da mãe, numa cena invertida de dois narradores tentando um salvar o outro, de uma infelicidade eterna em meio a realidade, mas também para se autoimunizar dos traumas – em vez de brincarem de jogar bola, os dois eram abusados sexualmente pela mãe e amigos.

Alex e Marcus são filhos de Jill Dudley, uma debutante – na sociedade inglesa, que frequentava eventos sociais como forma de ser apresentada a outros jovens de posição elevada (cena repetida hoje e sempre) que se casou com John Lewis, um “homem quieto, decente e nervoso”, e teve os gêmeos em 1964. Ponto final.

Kapetadas

1 – Neurônios morrem por si, a toda hora. Ainda assim são atacados pelos seus serial killers, os idiotas.

2 -Passatempo é quando nos divertimos com o tempo; contratempo é quando o tempo se diverte com a gente

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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