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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Carta ao amigo Haroldo

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publicado em 20/06/2023 às 07h00
atualizado em 20/06/2023 às 05h28

Domingo passado, um telefonema de Haroldo Pinheiro, (que eu sempre o imaginei da mesma árvore), mais que isso, amigo dos caminhos do mar. Haroldo estava em prantos. Seu amor Sandra, da vida inteira, havia morrido.

De um homem espera-se, que ele tenha coragem para enfrentar as perdas, corajoso o suficiente para não vogar diante da corrente, que leva nossos amores. Talvez até por uma inocência, mas precisamos concluir nossa missão.

Sandra não foi apenas a mulher que Haroldo conheceu, era o amor da sua vida, meio século e nunca vi nada igual, o zelo seguido do intuito desse amor, da conquista, da primeira vez, a simpatia mutua.

Sandra e Haroldo caminhavam todos os dias no mar do Cabo Branco. Eles chegavam bem cedo, para embarcação das pernadas, acho que às 4 horas da manhã e eu só os encontrava já de volta, junto a alguns de seus pares. Sandra ainda esticava até o Busto de Tamandaré.

Sandra morreu de quê, Haroldo? Ele me disse que ela adoeceu na terça e morreu na quinta

A margem de carinho de um homem por uma mulher não se mede, mas o amor de Haroldo e Sandra, eu vi de perto, um encanto, sublime, como um poema que recitamos de Fernando Pessoa.

Impossível não se emocionar escutando um homem ao telefone dizendo que não sabe “como vai ser daqui pra frente”, e não vai conseguir viver com a saudade dela, a Sandra que conseguiu deixá-lo homem feito, mas nós homens somos frágeis, carentes, dependentes da mulher.

Eu nem posso dizer a ele e digo, a frase do ator River Phoenix (que morreu há trinta anos, com 23 anos) – que Milton Nascimento musicou e gravou no disco Miltons:  “corra para o resgate do amor que a paz o seguirá”. Haroldo perdeu Sandra, seu refúgio, mas não perdeu a luz.

Essa união de Haroldo e Sandra é, certamente, a mais verdadeira carta de amor de uma eternidade, por onde passei nos últimos anos. Não deve ser fácil perder a mulher amada, a dona da casa, mas enquanto estivermos sobre a trilha da vida, seguiremos pelo que já se fez, que se faz e fará, nos incluindo no filme de outras vidas.

Meu caro amigo Haroldo, minha admiração pela história de vocês, amáveis, enredados e felizes.

Restou a Haroldo a comunidade, nós, os irmãos do mar.

Kapetadas

1 – Solidariedade –  uma palavra  que pode estornar o sentimento ainda vivo.

2 – Há pensamentos que me seguem, há sentimentos que moram comigo e a vida passa tão depressa.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB