João Pessoa, 22 de junho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Não canso de afirmar que o universo dos livros é fascinante; autores e autoras, no mais das vezes, são pessoas do bem, solitárias ou não; atormentadas ou não, inquietas e taciturnas ou não; mas, em geral, seres humanos admiráveis em quem você pode confiar o seu mais escabroso segredo que não será revelado, ao menos com seu nome, mas certamente será inspiração para um texto que, com engenho e arte, se transformará num poema ou prosa.
Mas, por trás do livro, além do autor, existe a figura do editor que, com olhar apurado e refinado faro literário, sabe identificar uma verdadeira obra de valor e decidir por sua publicação. Grandes autores do cenário literário mundial foram descobertos por editores que sabiam avaliar os originais que aportavam às suas mãos. Um deles, Max Perkins, chegou a ser biografado por A. Scott Berg e virou filme. Foi Max quem revelou o talentoso Fitzgerald (mas isso é assunto para uma outra crônica).
Aqui no Brasil não se foge à tônica. Temos muitos editores que contribuíram de maneira imensurável para o mercado editorial brasileiro, tanto descobrindo quanto resgatando autores nacionais e internacionais. E, como forma de homenagear alguns desses editores, a Universidade de São Paulo, através de sua editora (EDUSP), lançou uma coleção intitulada “editando o editor” ou “editando a editora”, a depender do gênero. São livros com transcrição de conversas descontraídas com essas pessoas que editam livros. Dessas conversas saem confissões, estratégias utilizadas no ofício de publicar livros; amizades construídas na convivência com autores; sucesso e fracassos; histórias cativantes e inspiradoras e, sobretudo, a paixão pelos livros.
O volume 10 dessa coleção traz a editora Maria Amélia Mello (que foi jornalista e até escreveu um livro de contos, “Às oito, em ponto”). De currículo invejável, teve passagem por grandes editoras, a exemplo da José Olympio e Autêntica. Uma das histórias hilárias que ela nos conta resultou na confirmação de um adultério, de maneira até então inédita, de se descobrir uma traição conjugal.
O fato se deu na época em que Maria Amélia Mello trabalhava no Centro de Cultura Alternativa, no Rio de Janeiro. No Centro ficavam arquivados jornais, revistas e outros periódicos alternativos até então publicados, dentre eles, o icônico tabloide Pasquim. Pois bem. A pretexto de fazer uma pesquisa, uma elegante senhora da alta sociedade carioca pediu a coleção do debochado jornal e começou a folhear as várias edições do semanário. Repentinamente, a madame bate com força na mesa e vocifera: “Eu sabia! Eu sabia!” Transtornada, ela acabara de ver uma foto do seu marido com outra mulher, num baile de carnaval. Pronto. Estava confirmada traição.
E foi assim que o Pasquim, que sempre foi irreverente e vanguardista, tornou-se, involuntariamente, alcaguete da escapulida de um marido adúltero.
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OPINIÃO - 22/11/2024