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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

As horas não se contavam

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publicado em 24/06/2023 às 07h00
atualizado em 24/06/2023 às 20h56

Eu tinha uma roqueira. Meu pai comprou de segunda mão, escondido da minha mãe. A roqueira tinha o desenho de um martelo, com um prego, que a gente colocava pólvora e batia nas calçadas do sertão. Pou! Era uma arma quente.

Minha mãe acordava com o sol. Ela sabia que eram três horas da tarde, pela fresta do sol na janela da cozinha. Meu pai  adorava a lua e me ensinou a contar estrelas. Dizia: “ali são as Três Marias, (muito próximas no céu). Bem ali está o Cruzeiro do Sul”.

Eu gostava tanto das noites de São João sertanejas, a luz do fogo que vinha das ruas, quase todas iluminadas pelas labaredas, que não existem mais. Nem a casa que eu nasci, na esquina Antônio Lacerda, existe mais. Nada mais me faz lembrar as noites sertanejas. E a faca na bananeira?

Cada casa tinha sua fogueira, menos lá em casa. Minha mãe não gostava. As brincadeiras, os traques,  as chuvinhas eram lindas e as pessoas pulando as fogueiras – umas, renovando os casamentos, outras, se tornado compadres – São João disse e São Pedro confirmou…

Escrever isto agora de forma a não sobressaltar a saudade, não há como não vislumbrar, a lembrança de pai e mãe, sentados na calçada.

Meu pai me ensinou a usar a roqueira, mas nunca me liguei nesse tal de Rock And Roll, mas gosto de ouvir os discos do Pink Floyd. A noite de São João no sertão parecia não terminar nunca, porque as horas não se contavam.

Não era costume fazer fogueiras para São Pedro, eram poucas. São João ganhava de todos os santos.

O tempo velou essas sensações deliberadamente singelas, tantos compadres e comadres e amores ficaram pra trás. Hoje eu olho para o céu do litoral e não vejo as estrelas.

No mundo globalizado deixou de haver lugar para coisas simples. As ondas de choque provocadas pela borboleta, que bate as asas na China, são cada vez mais fortes.

Quer saber? O Brasil está no modo anarriê desde 1500.

Benção mãe, benção pai!

Kapetadas

1 – A barba e a tatuagem são as melhores amigas do homem feio.

2 – Os planos do submarino foram por água abaixo.

3 – Não sei se todo mundo sabe: o prazo pra ficar de bem com a vida é só durante a vida.

4 – Som na caica – “Acende o fogo da minha fogueira, que a noite inteira eu só faltei morrer”,  Antonio Barros e J.Luna

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB