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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Retratos e circunstâncias

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publicado em 25/06/2023 às 09h17
atualizado em 25/06/2023 às 06h26

A verdade por trás das fotografias. Na verdade, as fotografias seus truques ou truque nenhum, mecanizam a liberdade de uma ilusão em movimento, que tenha ou não, rastros da felicidade.

Outro dia, o juiz Onaldo Queiroga me mandou uma foto antiga, do século passado, em que apareço com sua mãe, professora Onélia Queiroga e não consegui me reconhecer. Cara do que já fui.

A verdade que se esconde na evolução da imagem, não é tão verdadeira a que se revela no batimento do coração. Aquela voz da hora, que manda a gente sorrir artificialmente. Aliás, com inteligência artificial tudo vai bem, tudo vai mal.

Nos perdemos nas fotografias para nos acharmos emoldurados, quando localizamos outras personagens, muitas já se foram e outras ficaram no passado.

A fotografia já nos deu tudo que precisávamos, o retrato.

Num piscar de olhos, que pode demorar séculos, tanto quanto um laço amoroso, a fotografia é fatal. Minha mãe chamava o fotografo da cidade uma vez por ano para fazer retratos da gente, os três últimos filhos. Era uma curtição, o K e os irmãos gêmeos (Osmar e Osman) nos enquadramentos das imagens. Eu sempre me achava feio, nada fotogênico.

Lembro de uma foto, eu pequeno, sentado numa cadeira de balanço, com os cachos mais lindos, que voltaram nessa sequência dos 60 anos – essa foto corresponde à transição de muitos anos no átomo de agora, uma pressa, uma prece, uma prenda nesse instante, adeus.

Hoje as fotos se multiplicam e tiramos à toa e publicamos à toa e o tempo voa.

Cinzentas imagens das metrópoles, sobreviventes de uma luz em paralelo o que se transpira e se guarda dentro de cada Instagram, mas por fora é fachada, apoiada em closes em que foram erguidos pelos velhos selfies Há quem goste mais das fotos em preto e branco – eu.

A velocidade na hora de postar uma imagem, a maioria postagens de falsas alegrias, entre festas, bacanais e que só gozam nas imagens, nada mais.

Voraz é fazer o personagem tremer dentro do vestido, as imagens assim definidas, peito, coxa e coração – sempre imbuídas de canções. Tudo está ligado a fotografia. São lindas as fotos de mulheres nuas publicadas muito raramente pelo fotógrafo Bob Wolfenson em seu Instagram – a velha nudez que nunca mais será castigada.

Fecho os olhos e passo – um dia, outro, amanhã e tudo há de ser apenas fotografias. Até o alívio da saudade, é certo, mais libertador que a incerteza de quem são aqueles na foto, na sala de jantar, no pisador, na soleira, no banheiro ou com a turma da saideira.

Pela vontade de estar na foto, de aparecer junto ao que depois será só um retrato, à eterna vontade de fazer mais uma e nem sei por que todo mundo pede para ver a foto, se hoje fazemos tantas, muitas, exageradas. Todo mundo quer sair bem na foto, com razão.

Na falta de cenário, na presença da arte, a fotografia é um ensaio sobre nós mesmos.

Kapertadas

1 – No tempo em que Deus dava o frio conforme o cobertor, o desamparo social não dava esse povaréu todo nas ruas. Alô, São Pedro!

2 – O Mágico de Oz é um dos meus filmes preferidos de infância. Mas só hoje descobri que a Bruxa Má do Oeste tem a pele verde.

Ilustração – ensaio feito por Bob Wolfenson em Cuba, com a artista Nanda Costa, em 2013

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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