João Pessoa, 30 de junho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Somos feitos de escolhas, pois o que fica para trás é a confirmação de uma limitação. Não é possível ter tudo. Decidir é resolver uma tensão entre duas ou mais necessidades que reciprocamente se rejeitam. Muitas vezes, decidir é apenas a aceitação de uma imposição, uma ilusão a quem chamamos “livre arbítrio”.
Decidir bem é uma arte, mas há decisões que só aparentemente estão sob os nossos desígnios. Talvez, a maioria delas, seja, como já se disse, uma ordem: dos nossos átomos, das nossas circunstâncias, dos nossos genes, dos nossos pais, da nossa impotência, do acaso.
No entanto, somos feitos do barro delas e das suas entranhas. As escolhas verdadeiras têm, no mínimo, dois lados, um contrário ao outro, cada qual mais tentador ou necessário. No meio deles, uma mente atormentada pela indecisão.
Toda indecisão é paradoxal, pois guarda em si os dois lados grávidos e irritadiços das alternativas que se nos impõem, por isso, escolher é redenção e dor. No espaço reduzido das escolhas, há salvação e condenação, mas, como em tudo reside a natureza binária dos benefícios e dos malefícios, a escolha de uma alternativa impõe a recusa da outra, como se fosse uma lei mais forte do que a da gravidade: escolher é ganhar e perder ao mesmo tempo.
Ainda que seja assim, há decisões que são melhores do que outras, sejam elas decorrentes da vontade livre (se isto existir), sejam elas resultantes das forças imponderadas da existência. Tudo é mesmo contingente, como as nuvens do céu que, de uma hora para outra, se transformam em uma bela torre de marfim ou em uma besta fera de sete chifres endiabrados.
Se decidir é isto, com seu apelo para a liberdade ou para a perdição, tem algo bem pior: não decidir. O meio termo entre as placas tectônicas da vivência e do agir humano é, paradoxalmente, uma decisão, a suprema dor dos impotentes. Todavia, nem tudo é simples assim… Ah, senhores e senhoras, há decisões que rasgam a nossa alma!
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