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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

1984/2023

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publicado em 01/07/2023 ás 07h00
atualizado em 01/07/2023 ás 08h29

Perguntei a um rapaz no elevador do casarão, (me pareceu um advogado), se ele já tinha lido “1984” do escritor britânico George Orwell. Ele, sem olhar para mim, balançou com  a cabeça. Não entendi, mas lembrei da lagartixa do Bandeira. Outro dia lembrei Neruda e suas Odes Elementares.

Não preciso escrever sobre os 120 anos de George Orwell, em junho passado. Acho isso papo careta, escrever sobre quantos anos redondos ou não, tal celebridade faria ou fez. O certo é não perguntar onde fica a estrada. Meta bronca.

Assuma-se como paradoxal a resposta do rapaz do elevador, sem nenhuma argumentação. Nada. Nem todo mundo precisa saber que George Orwell existiu, mas seus livros sim –  A Revolução dos Bichos (1945) e 1984 (1949), este, romance distópico que o próprio autor descreveu como “abominável” e “horroroso”

Bom, não está mais aqui quem falou, mas vamos parar com essa coisa de dizer aos outros – “você tem que ver tal filme”, “tem que ler o livro de Jeca Tatu”. Não tem nada. Ler é uma questão de hábito, de gostar e é, certamente, o melhor prazer que jamais se conheceu.

Vamos imaginar que o rapaz do elevador é um robô, usava seu celular e ninguém tem mais tempo offline e não ficou à vontade para falar comigo e aquilo que não foi argumentado, prescindido voluntariamente distante, algo como se ele tivesse nascido em 1984, para se apresentar com o registo militar, quase neutro de uma experiência efêmera, dentro de um cubículo. Ok, de perto ou no sopé todo mundo é anormal.

Viagens algaravias. Eu gosto de pensar em certas canções que ouço.

Mais informalmente funcional, o meu texto, meu queixo, minha gueixa, minha dona, madona, minha redoma, meu quintal e eu não sou o Tao.

Ora, se é esta secura permanece, onde quase se corporiza a presença de George Orwell é porque seu livro 1984 faz uma mediação da palavra, num cenário mais perverso impossível, cheio de gente provisória. Simbora que lá vem o trem das onze. Tá vendo, eu não sei escrever etc.

Vamos lá. Eu li que George Orwell relutou em entregar, no dia 4 de dezembro de 1948, os originais de 1984 para os editores da Secker & Warburg, em Londres. Não estava lá muito satisfeito com o resultado. Incrível, né?

Em carta, falou mal do livro para amigos: “Uma boa ideia arruinada”, reclamou para um. “Ficou uma barafunda e tanto”, admitiu para outro. “Não teria ficado tão soturno se eu não estivesse doente”, explicou para um terceiro.

Além disso, uma espantosa afirmação: não há complacência, nem com o mundo, nem com as palavras, quem não sabe ou deixou de saber que G Orwell  nasceu em 25 de junho de 1903, em Motinari, na Índia. Como diz uma amiga, solidão é discutir a relação com a Alexa.

Sim, em 1984 eu já não era mais um capitão de areia.

Kapetadas

1 – Eu soube que um dia sem falar com a Beth Boquete, é um dia perdido na vida. Deu a bexiga

2 – Um retiro espiritual chamado retiro o que eu disse.

3 – Som na caixa: “É pena, que você pense que eu sou seu escravo”, Raul Seixas

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