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Professora associada do centro de ciências médicas da UFPB Coordenadora do serviço de doenças autoimunes do centro de atenção a doenças raras.

A confiança entre médico e paciente

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publicado em 03/07/2023 ás 15h41
atualizado em 03/07/2023 ás 15h47

A medicina é a ciência que estuda a saúde, o processo de adoecimento, suas causas e como enfrenta-las .

Esse enfrentamento por vezes é arriscado e tem seus efeitos colaterais. Muitas vezes os que me procuram perguntam: “esse tratamento tem efeito colateral?” Tem sim e explico quais são e os riscos maiores de não fazermos o tratamento.

O prejuízo à função dos órgãos pela doença é pior que o risco do remédio ou da cirurgia. Como médicos sempre queremos que dê tudo certo,  que o paciente volte pra casa e pra família com integridade física e mental. Isso nos faz profissionais satisfeitos, felizes e honrados com o dever cumprido.

Fazemos de tudo para que cheguemos a tal resultado mas muitas vezes pela gravidade da doença ou por problemas nos procedimentos e tratamentos clínicos ou cirúrgicos,  que chamamos de intercorrência, não temos o melhor resultado. Isso acontece com médicos que lidam com pacientes graves e doenças complexas e é um momento de extrema fragilidade para nós.

Aconteceu assim com um colega cirurgião pediátrico em Teresina (Piauí). Ele operou uma criança já com saúde debilitada aonde aquele procedimento de risco poderia com muita chance melhorar sua qualidade de vida. Porém, houve a intercorrência no procedimento e a criança faleceu. A imprensa, o Instagram, o Facebook e tudo mais que julga e acusa prontamente, nem a ouviram e já iniciaram uma campanha difamatória após a denúncia da família da criança. Não é bem assim. E ele se matou, assim mesmo.

Médico conceituado, honrado, pai de família, atendia bem suas crianças, formava novos médicos, parece que já tinha feito mais de vinte mil cirurgias. Mas aquele dia foi fatídico, e o julgamento da Internet foi cruel demais para ele. Encerrou uma carreira brilhante aonde ajudou tantas crianças e famílias sem a chance de se pronunciar, de se defender, de contar o ocorrido e ser julgado pela lei dos homens.

Na sua vida deve ter ouvido muito ‘obrigada doutor’, mas não foi suficiente para lhe dar a paz e a honra perdidas pelo achincalhamento da Internet. Copiando minha amiga e médica Virgínia Figueredo: “Que sirva para a reflexão quanto ao uso da palavra, sem ponderação! Infelizmente a rede social serve para que todos falem o que quiser, sobre qualquer coisa e com muita violencia!”

Tempos estranhos. Peço a Deus por mim, pelos nossos, que nos ausente de julgamento, crítica e nos alimente com mais gratidão para que possamos expressa-la em vida aos nossos amigos, colegas de trabalho, filhos, companheiros e também a nosso médico.

Obrigada doutor, descanse em paz.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB