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TRÉGUA INFRIGIDA

Oposição síria desafia regime e convoca protesto em massa

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publicado em 12/04/2012 ás 09h51

Apesar de o regime não ter retirado as tropas das ruas, as primeiras horas da manhã começaram calmas na Síria. Rebeldes sírios, no entanto, afirmam que a trégua foi infringida por Damasco. Segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos, houve explosões e disparos em Zabadani, Idlib, Homs e Bou Kamal. Um homem ainda teria sido morto em um posto de segurança em Hama. Insatisfeita com o plano de paz proposto por Kofi Annan, enviado da ONU e da Liga Árabe para Síria, a oposição convocou um protesto pacífico nas ruas do país, uma provocação que pode acabar em novos confrontos, dizem analistas.

Segundo o porta-voz do grupo Comitês de Coordenação Local e membro do Conselho Nacional Sírio (CNS), Hozam Ibrahim, protestos começaram em universidades de Deraa — cidade berço da revolução — e Deir el-Zor e já se espalharam por Aleppo e Idlib. A demonstração pode exaltar hostilidades entre soldados sírios e a população civil, já que durante os últimos 13 meses o regime não hesitou em responder com violência manifestações antigovernistas.

— Sírios sairão às ruas e será a maior manifestação para o povo sírio expressar sua vontade. Veremos se o governo cumpre seu compromisso. Mas pedimos cautela do povo, porque o governo não respeitará o cessar-fogo e disparará — disse o líder do CNS, Burhan Ghaliun.

A principio, rebeldes confirmaram a suspensão de ataques em Hama, Idlib e até Homs — cidades que estiveram sob bombardeio até quarta-feira — após às 6h (horário local). Ativistas também disseram que o clima era de calma na capital Damasco. A rede al-Arabiya, porém, relata a morte de três pessoas em um ataque a Homs nesta manhã. A informação não pode ser confirmada. Desde a manhã, a oposição denuncia a presença de tanques, soldados e francoatiradores nas ruas, apesar de o plano de paz exigir a retirada do Exército sírio das ruas.

— Não há sinais de retirada em Homs. Tanques, francoatiradores e soldados armados continuam por todo a cidade — disse um moradora à Reuters.

Testemunhas dizem que membros do opositor Exército Livre Sírio também continuam em Homs, mas apenas como medida preventiva. Poucos minutos antes do limite para o cessar-fogo, forças do presidente Bashar al-Assad dispararam morteiros na área residencial de Zabadani.

— Foi como se as forças de Assad tivessem enviando um último aviso — disse Rania, uma ativista local.

Violência a poucas horas a trégua

Os confrontos se alastraram na contagem regressiva para a trégua entrar em vigor, aumentando a desconfiança sobre a postura de Damasco em relação ao plano de paz de Kofi Annan. O ministério da Defesa da Síria disse na quarta-feira que iria suspender as operações na manhã desta quinta-feira, mas não fez menção a um recuo do Exército das cidades e disse que iria enfrentar qualquer ataque realizado por grupos armados.

Annan deve falar ao Conselho de Segurança nesta manhã, às 11h (horário de Brasília) para reportar a situação na Síria. A embaixadora americana nas Nações Unidas, Susan Rice, na presidência rotativa do Conselho de Segurança, ressaltou que somente um cessar-fogo já não é o bastante.

— Assad tem pouca ou nenhuma credibilidade. As promessas da Síria a Annan não podem ser percebidas como cumprimento do plano de paz de seis pontos — advertiu.

Outro alerta foi feito pelo primeiro-ministro turco, Recepp Tayyip Erdogan. Ele admitiu, pela primeira vez, estar disposto a pedir a intervenção da Otan para proteger suas fronteiras das forças de Assad, cogitando evocar o artigo 5 da carta da Aliança Atlântica, segundo o qual um ataque a um dos países-membros deve ser interpretado como um ataque a todos os seus 28 integrantes. Nesta semana, forças sírias atiraram contra um campo de refugiados turco, ferindo ao menos cinco pessoas. A medida seria o primeiro passo para a militarização internacional do conflito sírio.

— A Otan tem a responsabilidade de proteger as fronteiras da Turquia. Nossa sensibilidade sobre a questão síria é clara. Vamos acompanhar de perto nas Nações Unidas; a ONU deve tomar uma decisão sobre a Síria — afirmou o premier turco, em visita à China.

Até o ano passado, o premier turco era aliado de Assad. Mas, de Ancara, viu a crise síria ruir sua política de “zero problemas com os vizinhos” — além de ter que abrigar, em seu território, mais de 25 mil refugiados sírios. No último fim de semana, a morte de dois refugiados, baleados pelas forças de Assad em território turco, empurraram Erdogan ao centro da crise na região.

O Globo