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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Diga 33

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publicado em 08/07/2023 às 07h00
atualizado em 08/07/2023 às 10h10

Cá estou me valendo de todos os santos, que me ajudem a dizer novamente, 33.

Geraldo Bandeira era um conterrâneo, que já morreu, andava elegante e contava nas calçadas alvissaras da capital inicial da minha vida. Geraldo não era Geraldim, mas parecia um exímio dançador de tango. Não sei porque me lembrei dele e suas calças coloridas. Era um Lorde, mas não sabia que era, tinha o pé pequeno, calçava 43.

Geraldim foi criado por Tia Jael, deu uma facada num médico de Jatoba e morreu podre na Juliano Moreira. Geraldim não teve tempo de dizer 33.

Nesses dias chuvosos sonhei dançando um tango com a escritora e jornalista Judite Cospe Fogo, amiga de Bertrand Lira e Henrique Magalhães. Eu a adorava. Sua coluna no suplemento “Se Toque” era terrível. Ninguém escapava. Pena que ela foi morar numa chapada, que eu esqueci o nome.

Outro dia um amigo falava comigo ao telefone e tossia muito. Mas não era preocupante. Tossia sem parar. Aí eu disse tome um lambedor de malva e  diga 33. Num é que lembrei do doutor Irapuan Sobral, que mandava eu dizer trinta a três, trinta e três, trinta e três. Eu achava que ele estava enlouquecendo. E minha mãe repetia: “diga 33, mal educado”

Eu já era grande quando conheci Manuel Bandeira. Acho que foi em Copacabana. E foi ele quem me viu tossindo e também disse: “diga trinta e três”

Bobagens, tolices.

Agora diga  comigo, 33.

Peço licença para falar da “febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse”

Os médicos hoje chamam qualquer resfriado de virose, qualquer tosse.

Mandaram chamar o médico urgente, que Bandeira estava tossindo muito. — “Diga trinta e três. — Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire”

—”O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”.

Please, don’t Cry for Me Argentina.

Imagine uma multidão dizendo 33. É muito improvável que eu não venha a conhecer figuras “normais dizendo 33 nas redes sociais.

Deus seja louvado, dizia padre Zé Gália, na calçada da igreja São José, mas ainda não era a Peste.

Estava no corredor do Capim Fashion quando encontro a escritora Ana Adelaide. Chovia canivetes, mas ela não disse 33.

Kapetadas

1 – Pessoas que não te decepcionam: plantas e animais

2 – Saudades de um pagodão cerveja essas coisas, que eram de Carlos Aranha.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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