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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Em busca dos livros perdidos

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publicado em 13/07/2023 ás 07h00
atualizado em 12/07/2023 ás 21h34

Não é de hoje o meu fascínio pelos livros. O leitor começa a ser forjado na infância, e comigo não foi diferente. Gosto do livro impresso, admiro-o também como objeto, sua capa, diagramação,cheiro, ilustrações e títulos. Nas viagens que empreendia Brasil afora, antes de visitar pontos turísticos, monumentos históricos, procurava sempre as livrarias ou sebos locais. Confesso que, nesse périplo, era o que mais me dava prazer e algum sofrimento com os atendentes de livrarias, no mais das vezes com pouco ou nenhum conhecimento sobre o produto que vendiam.

Quando vou às livrarias gasto um bom tempo olhando aquela profusão de lombadas enfileiradas nas prateleiras das estantes. E não raro, ao procurar um determinado título, termino encontrando outro também de meu interesse. Essa busca sem pressa sempre meu deu prazer. Por outro lado, o sofrimento me acometia quando era abordado pelo vendedor e este  indagava por qual livro eu estava procurando. Carece explicação.

Os títulos são a sala de visita dos livros. E normalmente é pelo título que procuramos um livro. E era justamente nesse momento que a frustração se abatia sobre mim, quando ouvia a resposta do vendedor, que sempre me conduzia para seções que não me interessava. Quando procurei pelo livro Chá de sumiço, do amigo André Ricardo Aguiar, fui orientado a procurar a área de botânica. Outra vez, curioso para saber se o meu livro de crônicas Os ditos do quiçá, estava sendo procurado, a moça respondeu que aquela livraria não vendia obra de frases feitas. Certa feita busquei os livros Enquanto agonizo, de William Faulkner (foto) e Julho é um bom mês pra morrer, do amigo Roberto Menezes, o livreiro esbugalhou os olhos e respondeu que, por questões de princípios, não aceitava em sua loja, obras de incentivo ao suicídio. Desapontado, perguntei se tinha Ópera dos mortos, do mineiro Autran Dourado, e ele me indicou a seção de obras espíritas.

Numa determinada capital de um dos estados ricos do país, fui à livraria mais badalada da cidade para comprar os livros Outros cantos, da premiada escritora Maria Valéria Rezende e Os tambores de São Luís, do maranhense Josué Montello, e o vendedor muito simpático e serelepe me conduziu, num ritmo de ragatanga, para as prateleiras onde estavam os compêndios sobre música. Fiquei desafinado.

Até o festejado poeta Ferreira Gullar, quando publicou seu segundo livro de poemas A luta corporal, em 1954, foi a uma livraria do Rio e perguntou por sua obra e a resposta veio seca: “Não trabalhamos com artes maciais”.

É, a situação é de vaca desconhecer bezerro, ou mais apropriado, de livreiro desconhecer autor.

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