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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Coma o tempo bem mastigadinho

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publicado em 21/07/2023 ás 07h00
atualizado em 20/07/2023 ás 20h46

 

Há uma sensação de que o correr da gente por dentro do tempo é algo que vai progredindo, progredindo… Pode ser, mas depois do momento em que se dobra o cabo das tormentas, o tempo pode ter chegado à beirada do abismo, onde se cai esgarçado sobre o vazio da queda d’água, em volúpia e sofreguidão.

Como todo rio é sossego e tormentas, hora ou outra, o tempo haverá de se voltar sobre si mesmo em um salto belicoso, carpado, estrambótico, sem explicações, como é do seu feitio a natureza: remanso e espanto. De qualquer modo, nunca se vai saber se é a gente que galopa no lombo dele ou se é ele quem nos golpeia com suas esporas de ouro e aço cru.

Tic-tac, tic-tac… Esse novelo que se desenrola e se desdobra em moléculas cada vez mais miudinhas, desparafusando a gente, soltando-se, desmaterializando-se até que tudo, ao cabo, volta ao nada, de onde veio – aquela singularidade onde ocorre o grande encontro, a pororoca do fim com o início: o drama!

Por isso, nem me importo com essa coisa de aniversário. Prefiro completar nanosegundos, pelo menos, assim, só me caiem à vista átimos de tempo, que os percebo em saltos reluzentes como os das piabas nas águas frias dos riachos, oferecendo-me a sensação de que sou eterno, bilhões de segundos pelo tempo afora, miudinhos, repetidos, mastigados com deleite, com agruras, gargalhadas, o meu banquete.

Para que que sofrer, então?  Ide ao grande encontro preguiçosamente…Tic-tac, preguiçosamente. O salto é bem ali, mas é uma reticência, afinal o futuro tem que ser algo bem espetaculoso. Como, dele ainda não tenho medo, melhor comemorar segundo a segundo, microssegundos…Aniversário, não; nanossegundos.

Sim, garoto. Ide ao tempo sem pressa, remando, remando… Hoje não é 5 de setembro, mas como não estás preocupado com o tempo, podes fitar qualquer instante desse rio majestoso, afinal, cada um de nós tem o tempo que observa e vive, não é Francisco Leite?

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