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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

“P O L I C I O F O B I A”

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publicado em 25/07/2023 às 07h00
atualizado em 24/07/2023 às 18h36

A profissão policial é uma atividade complexa que, na sua essência, revela peculiaridades e riscos inerentes a este importante ofício. Ser profissional de segurança pública no Brasil é cumprir um ofício não só arriscado, mas também de pouco reconhecimento social.

Estamos num país com dimensões continentais, fronteiras intermináveis e pouco guarnecidas, desigualdades sociais e realidades culturais diversas. Além disso, se já não bastasse a complexidade natural da profissão policial, neste país há uma cultura de tolerância muito grande, tanto das autoridades públicas, quanto de grande parte da população em relação às irregularidades e até ilegalidades aqui praticadas.

Não há como negar que no Brasil, essa vertente do serviço público, ou seja, a segurança, nunca foi tratada com a atenção necessária pelos governantes brasileiros. E assim sendo, as polícias estaduais e federais, sofrem de carências crônicas. Some-se a isto, a morosidade gritante do poder judiciário e a leniência da legislação pátria com os criminosos. É comum, a estória criada do infrator gozar de mais credibilidade que o testemunho do policial. Por tudo isto, não há o que se esperar a não ser o que já estamos vendo, ou seja, criminosos cada vez mais ousados e cruéis, e a violência batendo na porta dos cidadãos e cidadãs brasileiras, inclusive na dos próprios policiais.

A polícia é a primeira a ser acionada quando alguém está em apuros ou sofrendo violências, se constituindo numa espécie de “para-choque” da maioria das mazelas sociais. Mas, por sofrer das carências já citadas, não consegue dar a resposta adequada e esperada pelo(a)s cidadã(os) aflitos. Assim sendo, a sociedade passa não apenas a desacreditar na polícia, mas também a desvalorizá-la e, por vezes, até a agredir verbal e fisicamente os policiais. Fato este que tem se tornado cada vez mais frequente, especialmente em localidades de comunidades carentes de grandes centros urbanos, em que os criminosos estão bem mais organizados e poderosos, e assim, estimulam e patrocinam coercitivamente a revolta dos populares contra a polícia, instalando o que alguns estudiosos da segurança pública chamam de “policiofobia”.

A cultura da sociedade brasileira é de só agir quando o mal já está instalado, seja na saúde, na ação social etc. Em relação à segurança pública não é diferente, ou seja, a polícia no Brasil é mais combativa que preventiva, e essa combatividade deixa a sociedade e também os policiais mais vulneráveis e expostos.

Alguns estudos demonstram que a polícia brasileira é uma das que mais mata no mundo, mas também uma das que mais morre. E este embate mortal, tem contribuído para que os criminosos e ou pessoas desinformadas, ou por malícia e interesses escusos, alimentem o já citado sentimento de rejeição e aversão à polícia, ou seja, a “policiofobia”.

Não se pode negar, que entre os policiais, que são extratos dessa mesma sociedade, existem aqueles que são violentos, corruptos etc. Mas, sem dúvidas, quem mais deseja que estes sejam extirpados das corporações são os policiais honestos e de bem, que são a grande maioria, e que têm a sua reputação profissional maculada por este pequeno número de infratores infiltrados.

Em um artigo escrito pelo Policial Rodoviário Federal, Felipe Bezerra, que é um exímio estudioso deste tema, ele afirma que, “…Ao contrário do que imagina o senso comum a policiofobia não é consequência da violência policial ante a população de periferia, e tampouco é uma resultante do período do regime militar. A população de periferia historicamente nunca teve voz e a maioria dos policiais de hoje sequer viveram ou tiveram alguma ligação direta com o período dos chamados “anos de chumbo”. Ela é, na verdade, uma construção artificiosa e ideológica de setores da política, da mídia e da academia, e é propagada, em regra, por indivíduos das classes média e alta que, no alto de suas torres de marfim, nunca sofreram abusos ou violência de policiais…”.

Ademais, vale acrescentar ainda, que além desta discriminação ideológica e por vezes criminosa, visando desqualificar e criminalizar a atividade policial no Brasil, ainda é comum que os policiais sejam vistos e tratados com desconfiança e pouca atenção pelo próprio poder judiciário brasileiro. Numa verdadeira incoerência, haja vista que a polícia é inegavelmente um braço auxiliar desse poder.

Desta forma, tenho testemunhado policiais cada vez menos motivados ao trabalho externo, no combate efetivo aos criminosos, sendo comum que muitos destes prefiram se esquivar em serviços internos e burocráticos, onde estarão bem menos expostos aos violentos embates nas ruas.

Assim, precisamos ter consciência que, só conseguiremos a proteção que queremos, se ajudarmos a proteger os nossos protetores. E, para tanto, é indispensável que valorizemos as instituições pátrias, inclusive a polícia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB