João Pessoa, 30 de julho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
(para Simone Magno)
De cara, recomendo “Um Encontro com a Lady”, de Mateo Garcia Elizondo (foto), neto de Gabriel Garcia Márquez, com selo da Record Editora.
Bom, na verdade, eu não quis ter dito alguma coisa, acerca do não dizer, mas dizer mesmo, mesmo quando não havia nada, nem prego nem parafuso, já havia tudo. Nossos ídolos estão morrendo, nós também. Já vivi muito.
Não há nada mais metafísico do que o calar-se para sempre, ou ficar olhando o tempo, enquanto vociferam malucos beleza, malucos otários, que não passam daquela primavera.
Se alguém tiver que prender a palavra, não faça com a poesia, ela se sustenta. Li de duas tacadas, “Um Encontro com a Lady” de Mateo Garcia, um livro pequeno, imenso livro publicado pela Editora Record e fiquei seguindo os passos da personagem, que se ausenta da cidade grande – suponho, para um vilarejo ali, esperar a morte chegar.
O livro de Mateo Garcia tem a necessidade de criar esse caminho, quando na real, todo mundo morre de medo de morrer. Não deve ser fácil quando a pessoa está condenada, na espera.
O assacado narrador, cujo nome morre antes, que vai para a cidade Zapotal, marca um encontro com a morre, mas por diversas viagens se esconde no ópio, porque seu encontro com a Lady pode ser a porta de serventia, o seu peso morto.
“Vim a Zapotal para morrer de uma vez por todas. Assim que pus os pés no povoado, livrei-me do que trazia nos bolsos, das chaves da casa que deixei abandonada na cidade, de todos os cartões, de tudo o que tinha meu nome ou a fotografia do meu rosto. Não me sobram mais de três mil pesos”
Ti-ti-ti do vinho
Bom, vamos degustar? Numa festa imodesta, festa de degustação de vinhos, (já disse que não gosto de vinhos), só uma taça ou do Porto, e lá no ambiente propício de um lounge, fiquei olhando as pessoas com taças nas mãos, alguns líquidos pretos, cor de rosa, suavemente, achei que eu poderia estar noutro lugar, na Montanha Mágica de Thomas Mann, mas não estava no Ville des Plantes, na praia do Bessa.
Numa festa, a gente termina sendo apresentado a outras pessoas e ainda bem que já não se troca mais cartões de visita – geralmente nesses eventos estão os mortos-vivos e… Viva os mortos! Amém.
Uma coisa tinha ali, mulheres bonitas e o poder do sex apil no toque do vinho, cujas gotículas que caiam dos lábios, lábios que eu beije. Talvez por isso eu tenha demorado um pouco mais.
Voltemos a Lady
Queria voltar para casa, terminar a leitura de “Um Encontro com a Lady”, mas outras ladys macias me fizeram ficar. Essa coisa que não mete medo, que arrasta a boca, os olhos, a alma, até que não reste senão o não como resposta, ou como o recurso de quem tem no olhar, a única arma.
Talvez essa tenha sido uma possibilidade nunca escancarada de forma frontal, o que o escritor mexicano chama de Lady, que parece estar em todo lugar e em lugar nenhum.
A voz da personagem de Mateo Garcia, parecia estar ali na festa do vinho, fosse o único lugar onde ela iria, antes de morrer, que não me mataria facilmente.
A canção “Saia do meu caminho” a condição última de Belchior, que vinha do vinil das pickups do Dj Astek, era a única referência a poesia.
O vinho dava na “canela” de graça, mas nem vinho tomei. Nada é de graça, nem a morte.
Kapetadas
1 – Envelhecendo como vinho. Cada ano mais caro.
2 – Os produtos instantâneos são a ejaculação precoce da alimentação, no mais segue o acordo do Edmond Safra.
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OPINIÃO - 22/11/2024