João Pessoa, 04 de agosto de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Todos somos primatas. E não se trata de uma força de expressão ou de uma ofensa. O homem, tanto quanto seus primos mais próximos, o chimpanzé, o gorila e o orangotango são primatas. Todos pertencem à mesma Ordem, como estabelece a classificação de Lineus, diferendo entre si pelo Gênero e pela Espécie, já que a Família é a mesma – Hominidae. O homem é do Gênero Homo e da Espécie Homo sapiens.
O primata nosso primo mais próximo é o chimpanzé, cujo Gênero é Pan e a Espécie-tipo é Pan troglodytes. Se formos para o bonobo, um tipo de chimpanzé menor, ainda mais próximo de nós, a diferença com o seu semelhante é que a sua Espécie-tipo é Pan paniscus. O gorila é do Gênero que leva o seu nome Gorilla e sua Espécie é Troglodytes gorilla. O orangotango, por sua vez, é do Gênero Pongo e, dentre as várias espécies, encontramos a Espécie-tipo Pongo borneo.
Não sejamos românticos, no entanto, achando que os primatas de outros gêneros são seres que vivem sempre em harmonia ou, em seu extremo, são seres que vivem em um mundo cruel e violento, sendo, portanto, cabível chamá-los selvagens. São selvagens pelo mesmo motivo que somos citadinos. Entre os primatas de outros gêneros e espécies, há toda uma organização social, em alguns aspectos diferentes da nossa, pois sobrevive o mais capaz, o que se adapta melhor às condições do seu habitat e ao confronto com as diversas circunstâncias e adversidades, incluindo aí o pior de seus predadores, o primata do Gênero Homo, que se autodenominou, como Espécie, Homo sapiens. Diria, num parêntesis, que estou cada vez mais convencido de que, na realidade, nada sabem.
Em outros aspectos, eles se utilizam de mecanismos que não nos são desconhecidos ou irrelevantes. Poderíamos até, num sentido mais amplo, chamar de mecanismos políticos, sendo o termo usado aqui na sua prática corriqueira pelos primatas Homo sapiens, de manipulação e sujeição dos demais. Chimpanzés, como o bonobo, resolvem todos os seus conflitos com o sexo, como moeda de troca, conforme nos ensina Richard Dawkins, em A grande história da evolução, livro que recomendo. Entre gorilas e chimpanzés existe a figura do macho dominante, que luta pelo poder, podendo utilizar tanto a força, quanto outros procedimentos como a bajulação e a traição. Seja esta ou aquela, o objetivo é sempre o mesmo: estar no comando e ter para si as regalias de ser temido e servido pelos demais. Até ser deposto. Mas, se assim agem, é por instinto que o conduz a continuar vivo, não importa a circunstância. Diferentemente, a nossa política, sempre barata e vil, tem como objetivo ser vivo, muito vivo, aliás.
Recomendo também o documentário da Netflix O império dos chimpanzés (2023), que poderá aclarar mais o nosso conhecimento sobre o que é a vida de nossos primos. Talvez, assim, deixemos de xingar os da nossa espécie daquilo que todos somos: primatas.
Em resumo: não há como querer ofender algum ser humano chamando-o primata. A ofensa seria se o chamássemos pelo gênero ou pela espécie. Acredito, no entanto, que os chimpanzés, gorilas e orangotangos é que deveriam se sentir ofendidos, pois eles vivem na natureza, cujas leis inflexíveis são para todos, indiscriminadamente, e onde não há a mediação da cultura, termo aqui empregado com o sentido de tudo aquilo que foi objeto de construção do ser humano, modificando a natureza e separando-o do convívio direto com ela e suas leis inexoráveis.
Como diria o poeta Augusto dos Anjos, no poema “Os Doentes”, numa afinadíssima sintonia com a evolução humana, parece que estamos fadados a viver da pior maneira possível, comprometendo nosso corpo e, sobretudo, o nosso espírito:
Descender de macacos catarríneos,
Cair doente e passar a vida inteira
Com a boca junto de uma escarradeira,
Pintando o chão de coágulos sanguíneos!
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TURISMO - 19/12/2024