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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Perceptores, mas eternos aprendizes

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publicado em 07/08/2023 ás 07h00
atualizado em 06/08/2023 ás 21h36

Outro dia, estava vendo um desenho animado com meu filho. Dois personagens. Coelhos falantes. Mamãe coelho e filhinho coelho. Mamãe coelho encheu um balão verde e o entregou ao filhinho coelho. Este, deveria cuidar do balão como se fosse seu filhote. Aparentemente, estavam numa brincadeira chamada “escola de mãe”, na qual o coelhinho cuidaria do balão, aprendendo as primeiras lições de como ser mãe. O desfecho da história não foi muito feliz. Bebê coelho deixou o balão voar: não se saindo bem, aparentemente, no seu treinamento. Digo “aparentemente” porque não vi o desfecho da história. Talvez a intenção da mamãe coelho fosse outra.

Essas coisas bobas que vejo todos os dias me fazem refletir tanto…!

Escola de mãe, escola de pai, escola de filho, escola de irmão, escola de amigo, escola de amante, escola de viver. Não nascemos com nenhum diploma. Não passamos por nenhuma dessas escolas antes de vir ao mundo. Vamos, ao longo da vida, aprendendo e passando por etapas. Quem disse que absorvemos tudo que nos é ensinado? Quem garante que seremos bons alunos? Será que passamos direitinho pela “escola de filhos”?

Por vezes penso que por mais maduros que sejamos, adultos, estabelecidos na vida, ainda somos as mesmas crianças, recebendo lições diariamente, aprendendo algumas, outras não. E por vezes penso que essa é uma condição permanente. Ainda me sinto precisando das lições da minha mãe, do seu colo, ou da palavra firme do meu pai me dizendo pra voltar cedo pra casa. E imagino quantas vezes ela se sentiu assim, enquanto me passava lições para a vida.

Hoje, vejo meu pai já tão frágil, precisando dos cuidados dos filhos e penso se ele sente saudade de ser filho. Se ele, agora com sua independência comprometida, mesmo que momentaneamente, sente a falta do vigor, da ânsia por se governar ou se ele sente a necessidade do colo. Nem sei se ele pensa sobre essas coisas. Eu penso. E quando olho pra ele, reflito sobre mim mesma, sobre meus filhos. Sobre as lições certas que devo passar pra eles. Sobre não precisarem de mim. Sobre amarem a sua independência, mesmo tendo ainda meu colo por perto. Sobre como devem me dar colo quando eu já não tiver minha autonomia.

Levamos a sério nossa missão de aprendizes? Levamos a sério nossa missão de preceptores? Quero que meus filhos cresçam, mas que sempre se sintam filhos. Que sejam autônomos e independentes, gestores de suas próprias vidas, mas, sabendo que meu colo estará sempre aqui. Que saibam aprender, mas que saibam ensinar. Que evoluam.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB