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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

O que mais nutre a violência: a ação dos maus ou o silêncio dos bons?

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publicado em 08/08/2023 ás 07h00
atualizado em 07/08/2023 ás 19h44

Como nordestino, paraibano e sertanejo, e originário de uma família pobre financeiramente, mas rica em caráter, dignidade, fraternidade e religiosidade cristã, eu, meus irmãos e irmãs, fomos criados e educados por nossos pais com muito amor, e claro sem abrir mão dos limites que a boa educação para o convívio fraterno e pacífico em sociedade impõe a todos nós seres humanos.

Dentre os princípios educativos passados por meus amados pais, está aquele que ensina a diferença entre o bem e o mal. Lembro-me com nitidez das incansáveis vezes que minha mãe, Palmira Wanderley, fez uso do conhecido princípio bíblico e muito popular, que deveríamos “fazer sempre o bem, sem olhar a quem”. Ela invocava tal diretriz pacificadora, especialmente nos momentos em que alguma das suas crias demonstrava alguma irritação com alguém por suposta possível injustiça sofrida. E ainda acrescentava que, além de perdoarmos o nosso semelhante, também não deveríamos nos vangloriarmos ou propagarmos tal atitude virtuosa, pois isto seria uma obrigação de todos os filhos e filhas de Deus. E ainda fazia questão de lembrar-nos que o bem não faz alarde, e ele deve promovido da mesma forma que o Criador fala conosco, ou seja, no silêncio da nossa consciência. E todos estes ensinamentos sempre me pareceram, de fato, adequados.

Confesso que tenho me esforçado para tentar cumprir com fidelidade tais diretrizes de fraternidade e tolerância, contudo, do alto da minha imperfeição de ser humano, com o passar dos anos e o meu consequente e inevitável amadurecimento, pra não dizer envelhecimento, haja vista que os românticos de plantão irão me condenar por usar um termo “discriminatório”, tenho testemunhado com muita frequência e para a minha tristeza, aqui no Brasil, o mal, travestido de bem, e de forma barulhenta e com discursos previamente ensaiados e até convincentes, ampliar seus espaços e dominação.

Como descrito em um trecho de um editorial do jornal Sudoeste – BA, datado do dia 09 de julho de 2019, “…O grito dos maus fez o Brasil afundar em complexo de inferioridade. Ensinaram-se alunos a desprezar nossa história e raízes e a afirmar que nossos males correspondem a culpas alheias. Ao mesmo tempo, foram sendo destruídos os valores morais, incentivado um conceito libertino de liberdade e promovida uma decadência estética. Bandidos foram mitificados, os crimes tolerados e a criminalidade expandida. É preciso calibrar o olhar para um dos maiores pecados de nosso tempo: a omissão.

Ao invés de passiva e estática, a omissão tem caráter ácido e dinâmico que pulsa buscando anestesiar as pessoas de bem. Pode ser comparada a um vírus letal que, enfraquecendo as raízes do protagonismo apaixonado das pessoas, vai contaminando com as sombras da indiferença tudo aquilo que toca ao longo do caminho…”.

Apesar de não desistir ou discordar da importância dos princípios educativos recebidos dos meus pais, quero dizer, que comungo com o contexto do referido editorial, especialmente quando afirma que um dos maiores pecados do nosso tempo é a omissão. Estamos vivendo num país contaminado de omissões generalizadas, e tal pecado não é exclusividade dos gestores e agentes públicos, mas da sociedade como um todo.

A própria Bíblia Sagrada, traz diversos textos e situações que retratam a omissão, e uma das mais transparentes e diretas a meu ver, está na carta de São Tiago que escreve no capítulo 4, 17: “Aquele que sabe fazer o bem, mas não o faz, cai no pecado”.

Estamos todos nos acovardando. Há uma paralisia crescente da defesa dos bons costumes por parte dos cidadãos e cidadãs do bem. E esta legião do bem, que é a grande maioria, precisa sair dessa inércia, e lembrar que, “o que alimenta as trevas é a simples omissão da luz”, pois a escuridão não tem o poder de se estabelecer por si só. Esta só sobrevive enquanto a luz se mantiver omissa e inerte. Portanto, precisamos acender a nossa chama e com nossa luminosidade ocupar o espaço que é nosso!

Como sabiamente afirmou o pacifista, Martin Luther King, “Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?”.

Sem dúvidas, o que alimenta a violência à qual todos estamos expostos, não é apenas os atos praticados pela parcela minoritária dos maus, mas também a omissão na qual se acosta a multidão de homens e mulheres de bem. Por comodismo e indiferença, estamos nos preocupando apenas com os nossos interesses individuais. E isto está nos levando inevitavelmente às catástrofes coletivas.

Portanto, invoco mais uma vez as sábias palavras de Luter King, quando proferiu a seguinte afirmação: “O que mais me assusta não é o grito dos violentos. O que realmente me assusta é o silêncio dos bons”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB