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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Leãozinho

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publicado em 08/08/2023 ás 07h00
atualizado em 08/08/2023 ás 07h30

Uma história de amorAmor e dor.

Não preciso dizer que tenho amor pela escritora Ângela Bezerra. Tá na cara. Bem antes do azul-turquesa. Eu jamais faria uma maldade com ninguém ou trairia qualquer pessoa. Jamais, principalmente, com Ângela, uma bela mulher. Ela é tão meiga, tão inteligente, tão amável.

Foi ela quem me disse que a vida é traição, sugerindo a leitura do poema de Manuel Bandeira “Momento num café” que indica as traições repetidas da vida. São muitas.

Outro dia coloquei para tocar o primeiro disco do grupo “Secos & Molhados” que chega aos 50 anos – em que aparecem as cabeças do grupo numa mesa farta. Uma das faixas “Róndo do Capitão”, também do Bandeira. É um poema engraçado, lindo: “Bão balalão, senhor capitão, tirai este peso, do meu coração, não é de tristeza, não é de aflição: é só esperança, senhor capitão”.

A vida trai muito a gente, né Ângela?  Por ser mulher, Ângela tem enfrentado traições de “amigos” da vida toda, mas nada a derruba. Nada.

Ela agora luta contra a ausência do gato Leõazinho, revelada no silêncio, na impossibilidade de dizer, de chorar, porque a perda de uma companhia é maior que a gente.

O gato Leãozinho há alguns meses caiu do terceiro andar, fraturou o fêmur e escapou milagrosamente.  Voltou treloso para casa, mas depois, partiu. Esse amor da escritora com o gato amarelo, sua aparição, é a maior prova de um amor universal.

Ângela está a sentir a ausência  de Leãozinho nos lugares habitáveis da casa – a rede, o sofá, na voz que se comunica apelando à memória, inevitavelmente sem resposta.

O gato amarelo já não se esconde no sono, tornado revelado, resgatado pela possibilidade de uma sílaba ou uma única palavra, Leãozinho.

A gente trabalha para sobreviver, pelo equilíbrio, o sentimento do mundo, mas nem sempre acertamos. O Leãozinho de Ângela era uma alegria (uma alegria pra sempre), à procura do retorno no entorno de seu território. Eu o vi várias vezes.

A companhia de um gato,  um cão, onde se experimenta o incessante viver dessa presença, saber que um ser que não fala, mas tem sentimentos; corre para porta na hora que a dona da casa chega, é tão bonito esse instante, ainda que, para tal, buscamos a eternidade ou insistimos em acreditar no eterno.

No largo e estreito tempo a gente segue o movimento da vida.  Temos que seguir. Perder alguém, perder um animal de estimação, é como engolir um grito, para não dizer que não falamos do Bandeira.

 Peso mais pesado
não existe não.
ah, livrai-me dele,
senhor capitão!”


Kapetadas

1 – Cuidado com os monstro que você cria na sua cabeça, eles vão te matar.

2 – Amigo que é amigo, apenas é.

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