João Pessoa, 15 de agosto de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
É preocupante a glamourização que tem acontecido nos últimos tempos em relação à cannabis (maconha).
A forma como grande parte da mídia tem falado desta droga deixa transparecer que esta substância é algo inofensivo e que pode se constituir num verdadeiro milagre terapêutico para diversos males que afetam os seres humanos.
É fato que alguns componentes extraídos da planta da maconha, em especial o canabinoide denominado Canabidiol ou CBD, tem demonstrado resultados promissores para a melhoria ou alívio de alguns sintomas relacionados a certas doenças como: convulsões, insônia, ansiedade, estresse etc. Ocorre que, mesmo em se tratando do possível uso terapêutico, é preciso deixar claro que as pesquisas em relação ao uso dos componentes da cannabis ainda são prematuras, sem o devido conhecimento dos possíveis efeitos que poderão advir deste “remédio experimental”. Também é importante frisar que há uma grande diferença entre o uso de um derivado da planta (canabinoide), isolado, e na quantidade certa para cada caso, e o consumo da maconha na forma fumada, com todas as suas propriedades tóxicas.
Em geral as informações estão sendo transmitidas de forma genérica, com frases como: “maconha é natural”, “maconha é remédio”, “trata-se de uma planta, portanto inofensiva” etc., passando a impressão, especialmente para os jovens, menos informados, que estamos diante de algo inofensivo e até benéfico. E isso não é verdade. A maconha é uma substância tóxica, viciante, cujo consumo indevido, em especial quando fumada, poderá acarretar sérios problemas de saúde aos seus usuários.
Nos últimos anos pelo menos oito estudos científicos confiáveis foram divulgados, e todos são unânimes em afirmar que existe uma relação direta entre o uso da maconha e alguns distúrbios psiquiátricos como a depressão, por exemplo, sendo tais riscos mais evidentes no público jovem.
Um desses estudo é uma pesquisa da Universidade da Colúmbia – EUA, com 70 mil adolescentes com idades entre 12 e 17 anos sobre álcool, drogas ilícitas e saúde mental. Este estudo afirma que, mesmo o consumo casual da maconha, tem impacto elevado na saúde mental destes jovens.
Diz ainda o estudo que, “adolescentes que usam maconha para fins recreativos, têm de 2 a 2,5 vezes e os dependentes de 3,5 a 4,5 vezes mais riscos de desenvolver distúrbios psiquiátricos, como depressão e tendências suicidas, do que os não usuários. Além disso, tal comportamento, coloca os adolescentes em risco de problemas de comportamento (baixo desempenho acadêmico, evasão escolar e problemas com a lei, além das consequências negativas a longo prazo).
Ainda em relação aos distúrbios psiquiátricos, vários especialistas concordam que aqueles adolescentes que já sofrem de depressão ou que possuem predisposição a este mal, podem mais facilmente passarem a usar a maconha ou outras drogas, como forma de aliviar seus sofrimentos. E este uso geralmente irá provocar uma piora da depressão, mesmo que momentaneamente camufle os sintomas desagradáveis deste transtorno.
É preciso lembrar que, na adolescência, não apenas o aspecto físico destes jovens passa por mudanças. Estes também enfrentam questões emocionais relacionadas a identidade, pressão social, cobranças por boas notas na escola, dinâmica familiar etc. Esta busca de identidade que é um processo natural da idade, torna estes jovens frágeis internamente, porém eles não querem parecer fracos, sobretudo para os seus pares e também para os seus pais. E tais mudanças, por si só, podem os tornar mais propensos a ter problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade, depressão, e outros, e tal fato, poderá impulsioná-los para o uso indevido de drogas. E assim, a ação destas substâncias no organismo, irá inevitavelmente comprometer alguns aspectos do desenvolvimento cerebral desses jovens usuários.
Além disso, é importante registrar que, a probabilidade do uso recreativo de drogas se transformar em dependência química é três a cinco vezes maior quando o consumo destas substâncias tiver sido iniciado antes dos 15 anos de idade, quando comparado com aquelas pessoas que só tiveram tal “batismo” após os 21 anos.
Assim, é importante que os diversos segmentos sociais empenhem-se nessa missão de educar sobre drogas, sempre evitando a glamourização destas substâncias, pois desta forma poderemos ajudar a edificar a saúde dos nossos jovens e da sociedade como um todo.
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OPINIÃO - 22/11/2024