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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Pálpebras também estão a fim

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publicado em 19/08/2023 ás 08h17
atualizado em 19/08/2023 ás 08h23

Parado no trânsito, bem pertinho da fuga das galinhas assustadas e uma ponta de fome ali. Lembrei do engano de crer nos predomínios do poder da mão armada, outras mãos fechadas e eu no volante a espera de o sinal abrir, – vai abrir, vai abrir, eu procuro você, por onde quer que eu vá.

Lembrei do lápis aquarela, da luz, do abecedário, por trás da dança das coisas do meu pensamento.

Vi uma gaiola pendurada numa varanda por conveniência, jamais pela convergência, e a solidão da beleza do pássaro nu, preso e à sua frente uma árvore, uma sombra e nada do sinal abrir.

Tão bonita a vida e suas apaixonadas carícias. Uma beleza das coxas macias, quase uma gramática, que concebe meu texto para a leitura labial, uma radicalidade do meu pensamento, junto dos galhos e das folhas. Não sou ninguém

A mão deveria ser mais carinhosa, o aperto cordial.

Me disseram que os homens eram bons, que a quietude deveria ser uma regra, mas não. Às vezes esqueço que estou na praia sem cachorro.

O rito da permanência, o olhar avarandado, a sombra das castanholas sem flor, as lentilhas na panela – tudo isto deveria ser sagrado. Na rua, muitos se jogam na sobrevivência.

Eu quero o meu texto longe dos tumultos, dos chicles baratos, para evitar vocábulos cortados, esculhambados, essa ferida viva da morte que nos cerca. Carros e motoristas crucificam os transeuntes.

Trânsito em transe, síndromes & pânicos espelhados e as árvores que restam se escondem no gueto urbano: cenas indigestas, a elegia que agora ocupa meu coração – odeio buzinas, emissoras de metonímias enlouquecidas. Minhas asas pedem correntezas…

Poucos se dão ao estudo.

Um vaso com lírios me faz lembrar de outro texto, uma canção de Milton Nascimento, que traz a imagem de uma pera dormindo numa fruteira.

Os  elementos da composição postos lado a lado para que sejamos lembrados das coisas que andam esquecidas.

Tudo que move é sagrado. Quem vem lá?, pergunta o anjo torto de Drummond com o seu olhar lazuli.

Outro dia vi um menino pescando na Lagoa do Parque “Solene” de Lucena, entre a cisão, o sujeito e verbo.

“Ninguém”,  ninguém é de ninguém.

Kapetadas

1 – -Oi, sumida! O que anda fazendo? -Procurando outro esconderijo.

2 – Quem pergunta a orientação sexual dos outros é um desnorteado no assunto.

3 – Temos boas e más notícias. Mas é o seguinte, ó: as boas são muito antigas e as más são recentíssimas.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB