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Os poetas de Ipanema
O cancioneiro popular enalteceu muito as praias do Rio de Janeiro, principalmente nas décadas de cinquenta e sessenta. Dentre elas, duas se destacaram: Copacabana e Ipanema. Esta última por uma música composta por dois poetas, boêmios e músicos que, àquela época, eram os legítimos “poetas de Ipanema”. Sim, foram eles que, sentados numa mesa do Bar Veloso, situado na esquina das ruas Prudente de Moraes e Montenegro, viram passar a caminho da praia uma jovem com uma malemolência sedutora no andar. Encantados com a beleza da adolescente, decidiram compor para ela uma canção que veio a ser a música brasileira que mais teve gravações: 442 no Brasil e no exterior. Claro que todos já sabem que os autores foram Tom Jobim e Vinícius de Moraes e a música é “Garota de Ipanema”, cuja musa inspiradora foi a hoje octogenária e ainda bela Helô Pinheiro. A música continua atual e representa muito bem a bossa-nova.
Daquela época para cá muita coisa mudou. O bar passou a chamar-se “Bar Garota de Ipanema” e a rua Montenegro foi rebatizada para Rua Vinícius de Moraes. Já tive a oportunidade de conhecer o bar e ali assistir a um espetáculo de Maria Creuza – que já fez turnê com Vinícius e Toquinho, e gravou com a dupla um disco -, ainda hoje o local atrai a atenção de muita gente.
Agora, o que poucos sabem que é que a primeira letra feita por Vinícius para a música de Tom Jobim não foi essa que todos conhecem de “cor e salteado”, e sim uma outra que depois o poetinha achou por bem mudar para a atual. Poeta tem dessas coisas, a letra descartada não era de se jogar fora, porém, a genialidade de Vinícius se dava a esse luxo.
Vejam como eram os versos da letra inicial: “Vinha cansado de tudo/ De tantos caminhos/ Tão sem poesia/ Tão sem passarinhos/ Com medo da vida/ Com medo de amar/ Quando na tarde vazia/ Tão linda no espaço/ Eu vi a menina/ Que vinha num passo/ Cheio de balanço/Caminho do mar.” O título dessa primeira versão era “Menina que passa”.
Confesso que dá uma vontade danada de cantar a música com essa letra que foi desprezada pelo nosso grande poeta do amor maior.
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