João Pessoa, 30 de março de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Uma menina de cinco anos é a mais jovem entre as 400 crianças vítimas de casamentos forçados registrados na Grã-Bretanha no ano passado, segundo números recém-divulgados por uma força-tarefa do governo britânico.
As cifras são parte de uma consulta pública finalizada há pouco pela Unidade de Casamentos Forçados do país, que dá assistência às mulheres e crianças que são obrigadas a se casar.
Amy Cumming, que lidera a Unidade, disse que 29% dos casos que chegaram ao grupo envolviam menores de idade.
‘A mais nova delas tinha cinco anos de idade, então há crianças em idade escolar envolvidas nessa prática’, declarou.
Para proteger os menores, as autoridades britânicas não revelaram detalhes sobre onde ocorreram esses casamentos. Mas os dados revelados não causaram surpresa à Organização de Direitos das Mulheres Curdas e Iranianas (IKWRO, na sigla em inglês), que lida com mais de cem casos de casamento forçado por ano.
‘Temos clientes que são pré-adolescentes, de 11 e 12 anos. O caso mais jovem que tivemos era de (uma menina de) 9 anos’, disse Fionnuala Murphy, da IKWRO.
Com a conclusão dos trabalhos da Unidade de Casamentos Forçados da Grã-Bretanha, a IKWRO espera que a prática da união forçada seja criminalizada no país.
‘Achamos que a criminalização daria poder às vítimas, (faria com que) soubessem que é um crime, enfrentassem seus pais na defesa de seus direitos e buscassem ajuda.’
Abusos violentos
A escritora Sameem Ali conhece de perto o trauma de ser uma noiva criança: ela tinha apenas 13 anos quando foi levada por sua mãe, de férias, ao Paquistão. Ela estava animada com a viagem, mas, ao chegar na aldeia de sua família, descobriu que seria forçada a se casar com um homem com o dobro de sua idade, que ela nunca havia visto antes.
‘A família inteira apareceu, trazendo um imã (religioso muçulmano), e me forçaram a me casar. Na época, não entendi o que estava acontecendo. Era apenas uma criança e não podia falar não.’
Oito meses depois, ela voltou à Grã-Bretanha, mas a essa altura já havia sido vítima de violentos abusos.
‘Fui trazida para cá (Grã-Bretanha) com 14 anos e grávida’, relata. Hoje, ela está casada por sua própria escolha e ajuda outras pessoas que enfrentaram a mesma situação.
No entanto, ela teme que a eventual criminalização do casamento forçado iniba as vítimas da prática. ‘Uma jovem nunca vai vir a público testemunhar contra seus pais na Justiça’, opina.
Debate legal
Em 2011, a Unidade de Casamentos Forçados diz ter lidado com 1.500 casos, mas acredita-se que muitos nunca sejam reportados às autoridades britânicas.
Medidas de proteção a vítimas foram implementadas em 2008 na Inglaterra, no País de Gales e na Irlanda do Norte. Uma vítima em potencial, um conhecido ou uma autoridade pode solicitar uma ordem judicial que a proteja de um casamento forçado. Na Escócia, a prática já é considerada um crime.
O atual governo britânico ordenou uma consulta pública para avaliar se o casamento forçado deve, agora, ser criminalizado. A decisão é esperada para o fim deste ano.
G1
OPINIÃO - 22/11/2024