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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Primavera molhada

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publicado em 02/09/2023 às 07h00
atualizado em 02/09/2023 às 05h16

Preguiças não combinam com sábados, certamente mergulhos, dengos, dentes peitos fortes, mastigando a manhã sem pressa, amor e sexo – glória a deus nas alturas, que mantenha minha fome de viver mais – muito mais, muito mais.

Seja feita a nossa vontade. No canto do meu olho um abajur do mar, quase não enxergo e depois, clareia, e olho no olho, entre quatro paredes piscas largadas de recomeços. Vou logo dizendo: a fonte do gozo em demasia não seca – contagia e, levaremos para o Amém.

Vejo a artista baiana declamar Fernando Pessoa: “estou farto de semideuses”.  Depois ela canta que vai aprender a ler para ensinar seus camaradas.

No passo de Vital Em Sua Moto, do Viana, eu passo, tiro fino, sou menino e ainda estou a arrematar os últimos momentos do pãozinho assado ao jantar, mas se você botar a Coca-Cola eu tomo, se botar o pirão, eu como, eu como…

É tempo da boa lavoura, nunca mais a Lavoura Arcaica, o novelesco banal e lírico de Ruam Nassar. É tempo de sol de arrebol no infinito, bem mais particular, acolá, numa cama alta a dividir, gemer, cuidar, acariciar no desejo celebrado de ser o samba e o enredo. Volto já, vou ali postar a foto no outdoor da avenida de gás neon.

Vou logo avisando: a paciência se distancia, mas eu miro as praxes e cataventos, dou pernadas e vou a exaustão – vou fundo na insistência, mas quando eu morrer não quero flores nem velas, quero caravelas.

Solto soul + eu, na eterna performance dos anos 80, testosterona a mil, na minha primavera molhada, do jeito mais engenhoso de gemer sem sentir dor, ouvindo “Yesterday” que eu não gosto na voz dos Beatles, (nunca gostei dos Beatles) melhor com Ray Charles, que é estupendo.

Sou urbano, jamais Fulano. Tenho produtividade, sei me reinventar.

Prazer por saber de onde vim, pra onde não vou voltar, sertão Voltaire e meu pé de jacarandá.

A transa me inspira coisas das picapes, amor que fica.

Um Pinheiro K que não se decliva.

Levanto-me apressado com o canto do galo. Saio para matá-lo com o facão comprado no Mercado Livre. Ah, as copas das árvores, os coitos e outeiros, que me ensinam a amar, sem precisar negar Jesus três vezes, antes que o galo cante de novo.

Outro dia ouvi o piano de Nina Simone em Little Girl Blue, disco sem mácula. Bebo café em caneca de louça e me preparo para mais um show Transa. Vem comigo, vem?

Kapetadas

1 – Não importa se a questão é complicada: “sei lá” é uma resposta das mais convincentes.

2 – Abdução é um programa de milhagem exclusivo para quem viaja na maionese.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB