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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O terno azul

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publicado em 03/09/2023 às 08h42

Meu caro Mino, escrevo essa Carta dos trópicos, onde o sol de Henri Miller nunca nasceu primeiro.

Acho que você concorda comigo: o grande problema do planeta é a população, é gente demais para comer, incomodar, nunca um relicário. Ter um pai inteligente, o seu, Demetrio Carta, um homem de cultura, já foi grande adiando para interpelar, mas nem todos conseguem sair do breu.

Pedaço a pedaço, a gente vai-se reconfigurando nessa brisa que o Brasil beija e balança, para não ficarmos só entre os trópicos, nós presos às paredes, rodapés, reboco, candeeiros e cuspideiras. Não sei para que tanta coisa, além dos ossos do ofício.

O mundo dos talentosos é minúsculo, caro Mino, certamente, por isso, os guetos não chegaram a lugar nenhum. Tudo se assemelha a uma organização desorganizada. Ninguém acredita em mais nada, numa azáfama total. Não sei por que usei essa palavra azáfama, meu caro Mino, mas ninguém é cidadão.

Andam para trás caranguejos e homens de três bocas a se preparar para nada(r) no mar mental brasil, mas, evidentemente, com um ritmo irregular, menos os raros estudiosos.

Eu gosto de você Mino Carta, não por ser imenso, mas pela sua naturalidade assustadora. Sim Mino, precisamos reconstruir pontos apagados, tições, tensões no maquiar e vestir os mortos-vivos, durante a travessia. Tem gente por aqui nos trópicos PB, meu caro Mino, que ainda está carregando o morto.

Pelas cidades destruídas conseguimos ver o berço e rastros da nova civilização artificial, colados nas tribos e moradores de rua que avançam e, com a chegada da liberação da machona, segundo Nelsinho Mota, tudo vai ficar bem estável e o governo vai arrecadar trilhões. Imagina.

Mino não fala sobre isso, ele afirma que os jornalistas de hoje estão focados apenas na notícia, como um mero fato, espalham pelas redes, ou seja, os jornalistas, segundo Mino, estão dando voltas na lâmpada, feito mariposas. Trepam, mas não gozam.

Na verdade, vivemos entre moscas, sopas antidepressivos tricíclicos dessa patologia social dos amarelos empombados, nesse tempo e sua desventura online.

O “umbigo” da notícia sempre a vaidade e o fogo morto, mais agonizante que antes do Brasil de Domitila e Leopoldina, está praticamente na horizontal da barriga, como um tambor ou tumor, sei lá.

Mino Carta seguiu o rastro do pai (que também era jornalista, um cara que se engendrou com a literatura brasileira), o que raros jornalistas o fazem. Ou seja, em volta da lâmpada, as mariposas…

Carta diz que é melhor inventar a realidade e está certo: “a invenção da realidade é algo empolgante”, diz ele, ao lembrar de Guimarães Rosa. E pensar que Mino Carta virou jornalista por causa de um terno azul-marinho. Foi assim.

O pai dele foi convidado pelo governo italiano, para fazer a cobertura, na época em que trabalhava no Estadão, do mundial de futebol que se realizaria em 1950 no Brasil, mas o pai de Mino detestava futebol. Passou a bola para o filho

Mino logo quis saber quanto ia ganhar. Ele topou e com a grana, comprou numa alfaiataria um terno azul-marinho, para ir aos bailes dos sábados e conquistar as garotas – “terno azul-marinho, era o rei dos ternos”, fecha MC.

Mino é um anárquico jornalista e eu bebo nessa taça. Ah! Parabéns, somos de Virgem – dia 6 você fará 90 anos, dia 7, o K fará 63.

Kapetadas

1 – Papel de trouxa é tão ruim que nem a reciclagem compra. Deu a baxiga.

2 – Todo mundo se espanta com a idade da família Xororó, porque eles vão negando as aparências e disfarçando as evidências.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB