João Pessoa, 05 de setembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Jogos violentos levam os jovens à violência?

Comentários: 0
publicado em 05/09/2023 às 07h00
atualizado em 04/09/2023 às 16h00

 

Videogames, violentos ou não, geralmente fazem sucesso entre jovens e adultos. Esse é um dos motivos de preocupação de muitos pais. Será que esse tipo de jogo pode induzir crianças ou adolescentes à violência? Existe uma relação direta entre jogos violentos e comportamento violento?

Algumas pesquisas dizem que sim, jogos violentos estimulam a agressividade, contudo, boa parte das meta-análises feitas por diversas universidades ao redor do mundo apontam que a relação não parece ser relevante.

Dentre os estudos que afirmam que não há relação entre jogos violentos e comportamento violento dos jovens jogadores, cito uma análise feita entre 2015 e 2020 e publicada na revista ‘Perspectives on Psychological Science’. Segundo o referido estudo, “…não há nenhuma ligação clara entre violência em videogames e agressão praticada por crianças e adolescentes jogadores”.

Já o pesquisador e educador Jaime Ribeiro, CEO e cofundador da Educa, principal edtech brasileira com foco no ensino socioemocional, afirma que “… não precisa de muita estatística para se chegar à conclusão que se uma pessoa tiver tendência a comportamentos violentos, e estiver exposta a jogos que nutrem o cérebro com narrativas violentas, pode se tornar uma pessoa que pratique atos de violência…”.

Também na opinião da psicopedagoga Elizabeth Monteiro, os jogos têm relações com determinadas áreas do cérebro, que se assemelham com os efeitos das drogas, e assim sendo, podem induzir determinadas atitudes. E acrescenta: “…sem dúvida alguma, muitos casos desses ataques e ameaças a escolas estão relacionadas aos jogos violentos. Nos jogos, o desafio é matar. Parece que matar é fácil, uma conquista. Então, isso induz os jovens a esses comportamentos violentos. […] E isso conduz uma mente de adolescente ainda em formação à banalização da morte. Causa excitação no jovem, e ele sente atração por tudo que é perigoso”.

Acreditam os estudiosos desta linha de pensamento, ser natural que as crianças repliquem comportamentos do meio em que estão inseridas. Assim, se elas costumam ter acesso a jogos violentos, suas ações podem ser influenciadas por eles. Esta afirmativa é ratificada por uma pesquisa realizada pela American Psychological Association (APA) a partir de uma análise de estudos publicados entre 2005 e 2013.

Como pode ser visto, as divergências entre os pesquisadores desta temática são muitas. Se, de um lado, estudiosos e pesquisadores diversos atestam que sim, ou seja, existe relação entre jogos violentos e comportamento violento, outros estudos não menos importantes, contestam tal afirmativa. Inclusive, alguns usam como argumento para sustentar suas teses, dados coletados em países como, Estados Unidos da América e Japão, onde tais jogos, apesar de muito populares entre os jovens, as taxas de violência juvenil caíram nos últimos anos

Numa análise fria, muitos questionam o seguinte: “quem surge primeiro: a violência urbana ou a violência nos jogos?”

         É fato que gerações anteriores aos games brincavam de mocinho e bandido. Usavam armas de plástico e “matavam” uns aos outros, e nem por isso a maioria se tornou bandido ou têm uma moral questionável, afirmam aqueles que não concordam que os jogos violentos induzem à violência.

Ao que parece, as divergências entre os pesquisadores vão continuar existindo. Se de um lado existem pesquisas que atestam tal relação, da mesma forma, outros estudos afirmam que não existem provas concretas desta ligação.  Contudo, todos concordam, que é importante que os pais fiquem atentos ao tempo que seus filhos passam jogando videogame, e se tais jogos estão classificados como adequados para aquela faixa etária. E ainda, consideram essencial que esses pais conheçam o conteúdo dos jogos, e que seja acordado com seus filhos os dias e horários para tal prática, evitando assim o uso excessivo dos mesmos.

Sem desconsiderar os pontos de vista divergentes dos estudos já citados, é importante acrescentar, que outros relatos científicos atestam que, os jogos violentos conseguem estimular a agressividade em jovens que já possuem tendências à violência. Mas que o jogo eletrônico não pode ser isoladamente culpabilizado. Segundo esta corrente de estudiosos, culpar os videogames isoladamente é um engano, uma vez que alguns fatores sociais e de convívio podem contribuir para isso, como o histórico de abuso ou negligência, ambiente familiar disfuncional, pressão social, exposição à violência, pobreza, falta de habilidades sociais e transtornos mentais.

Enfim, apesar das divergências existentes, a grande maioria concorda que, mesmo que os jogos violentos não impliquem necessariamente na reprodução de violências, estes podem estimular comportamentos e pensamentos agressivos, especialmente naquelas pessoas com temperamentos predispostos a agressividade. Tais entretenimentos também podem contribuir para a diminuição da capacidade desses jogadores de desenvolverem sentimentos de empatia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também