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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Um bocadinho mais

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publicado em 07/09/2023 às 07h00
atualizado em 07/09/2023 às 07h55

Eu lembro que na minha casa, no sertão, não tinha jardim e o muro era encimentado. Meu pai dizia que eu tinha nascido às 10h, e o desfile de 7 de setembro passava na rua.  Isso há 63 anos atrás.

Naquele tempo não existia a morte. Tudo era tão belo.  Eu queria ser Santiago, o velho do mar de Hemingway. (foto)

Cheguei a pensar que na minha rua morava uma Alice, mas eu não conheci essa maravilha. Isso faz muito tempo, creio,  datava de 1970. Eu era jovem e gostava de conhecer vaga-lumes, grilhos, pássaros noites e quintais.

Breves lembranças de quando fui ao Edifício Santa Rita (já em João Pessoa) e subi de elevador, pela primeira vez. Quando desci, chamei dona Joaninha para ir comigo até o térreo. Datava de 1976.

No Santa Rita, no sétimo andar, vi Mãe Velha e sua filha caçula, que não lembro o nome, mas era linda, uma cena forte como se parece com tempo.

Eu não sei porque a gente gosta tanto de quem não gosta da gente.  

Naquele tempo eu pedia a Seu Joaquim, um preto bacana, (gerente da pensão que eu morava na avenida General Osório), o ferro de engomar emprestado, para passar minhas camisas – eu tinha 3 camisas e duas calças.

As costuras da vida reerguiam as graças de esperanças tardias.

Eu adorava ir ao cinema, aliás, eu “nunca fui ao cinema não gosto de samba não vou a Ipanema, não gosto de chuva nem gosto de sol” #Jobim

Eu tinha a mania de puxar conversa com as pessoas que eu não conhecia e acrescentar clareza ao prever um caminho dentro do sonho.  Sonho meu, sonho meu.

Não tinha gaveta, nem cômoda, sequer antiga. Eu fazia parte daqueles  que ordenavam a certeza de que faria amigos e fui me libertando dos prantos, não da síndrome, nem sei o que isso.

Os homens constroem suas histórias. Eu sou um deles.

Em 1977 fui ver Caetano Veloso pela primeira vez no show “Muito” no Hotel Tambaú. Ele cantava “Terra”,  em que fala na Paraiba.

Subia, descia, subia e descia com a habilidade de guardar o sol em mim.

O mais provável seria chegar ao mar para Amar uma pessoa.

Hoje é meu aniversário, já estou velho, mas a combustão é quente e, de vez em quando, o castanho do meu olho, olhos nos olhos, que guardam o pouco que me basta, a ilusão de que ser homem bastaria, tudo por causa da mulher, da canção de Gil.

O colosso da beleza da paisagem, ainda estou nela, longe da armadura, do meu cavalo de pau e a compensação, mais um bocadinho  – já é lucro, como diziam lá em nós.

Kapetadas

1 – Previsão do tempo: parcialmente esgotado.

2 – Nem obstáculos nem impontualidade. A causa principal dos desencontros é a marcação de encontros.

3 – Som na caixa – “Se eu soubesse também como era o ambiente, decente … Jogava um pano lega por cima de mim”, de Billy Blanco / Miguel Gustavo

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB