João Pessoa, 15 de setembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia

Comentários: 0
publicado em 15/09/2023 ás 07h00
atualizado em 14/09/2023 ás 23h09

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. A menina mais linda do mundo, não porque tenha 18 ou menos anos, mas porque suas rugas desenham em seu rosto a face do seu tempo no templo de uma alma mansa e perspicaz por mais de oito décadas.

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, a mulher mais serena do mundo, não porque  o cotidiano da vida tenha lhe subtraído as revoluções das dores, mas porque ela é a madrinha da resistência e da gravidez de todas as esperas e esperanças;

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, a mãe segunda, não porque não pudesse ser a primeira, mas porque o empate do amor é a coisa mais comum na vida e, nessas coisas das bondades, não há ordem nem grandeza.

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, uma rosa ou margarida, um botão estrangulado pelo amor de querer ser flor, não porque lhe faltou agruras, mas porque é cacto benfazejo, daqueles de dobradiças abertas mostrando a fruta mais adocicada do mandacaru resistente;

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia, colo e carinho, cafuné e paciência, não que não fale a língua de ramagens das canafístulas e dos mulungus, mas porque a divindade pousa em seu canto, o seu encanto de existência.

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. Tem poucas letras e muitas fantasias; tem pouca instrução e muitas intuições; tem um bordado de amor em cada possibilidade de viver,  a compreensão, um disfarce poderoso para manter a disposição de entender os outros;

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. Parece uma passarinha , dessas de canto mavioso, andar apressadinho, como se quisesse bicar o tempo e dominar todas as revoadas do viver.

Eu tenho uma irmã que se chama Amélia. Seu café e seu cachimbo, seu cheiro e suas mãos. Ela não sabe ainda, mas eu aprendi a escrever admirando-a burilando os seus bordados e a sua resistência.

Dedé hoje completa muitos anos, mas como é apenas o meu amor, nem idade tem. É  espírito superior, guardiã da vida. Ah, Dedé, eu te amo! Parabéns, minha querida.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB