João Pessoa, 19 de setembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O assunto corrupção está sempre em pauta no noticiário nacional. O Brasil, sem dúvida, é um dos países em que impera a corrupção. Cabe a pergunta: qual o custo da corrupção crescente e desenfreada existente no Brasil para a sociedade brasileira?
Certamente, calcular este custo é difícil, pois a natureza do crime, pelas suas nuances e conluios nefastos dificultam a contabilidade.
Contudo, alicerçado num misto de indignação e curiosidade em relação a este mal, me deparei com um cálculo projetivo elaborado num passado recente, pela FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que afirma que tal crime corrói cerca de 2,5 a 3,0 do Produto Interno Bruto – PIB, nacional.
Ainda neste sentido, me deparei com um levantamento da Controladoria Geral da União – CGU, que atesta que de cada R$ 100,00 (cem) reais “surrupiados” por corruptos dos cofres públicos nacionais apenas R$ 1,00 (um) real é descoberto. E, o que é pior, é que deste um por cento descoberto, o país só consegue recuperar cerca de R$ 0,7 (sete centavos). Ou seja, de cada cem reais roubados pelos corruptos no Brasil, a sociedade só recupera míseros 0,7 (sete centavos).
Algumas matérias jornalísticas relatam que o órgão controlador já citado, chega a admitir que há irregularidades em aproximadamente 80% dos contratos de estados e municípios com a União. E que, a probabilidade de um servidor público, especialmente aquele alojado no alto escalão do serviço público, vir a ser condenado é abaixo de 5% (cinco por cento).
Também é salutar lembrar que, quando se trata do crime de corrupção, os danos impostos à sociedade não são apenas financeiros. Estes também são incalculáveis em relação à reputação do país perante as demais nações e sociedade mundial.
Se fizermos um cálculo superficial sobre o dinheiro desviado dos cofres públicos no Brasil a cada ano, o montante seria suficiente para construir cerca de dez escolas em cada um dos quase seis mil municípios brasileiros.
Vendo tudo isto, não tem como não fazermos uma reflexão lógica: por que a sociedade brasileira é tão inerte e aparentemente conformada com tão grave problema? E mais, o que é preciso fazer para minimizar este pernicioso mal?
Tentando achar uma justificativa da população para esta inação frente à corrupção, e já admitindo uma meia culpa também, ao que parece, todos nós carregamos uma indignação latente por tal problema, mas na maioria das vezes tal inquietação fica restrita apenas ao sentimento, desprovido de ações concretas para combater tal mal.
As causas principais que facilitam e alimentam a corrupção são velhas conhecidas do povo brasileiro: instituições frágeis, cuja credibilidade perante a população fica abaixo dos 50% em todas as pesquisas; hipertrofia do Estado, em que a maioria dos servidores, especialmente aqueles alojados nas instituições do alto escalão dos poderes da República são indicações por apadrinhamento político e não por concurso e meritocracia, fazendo com que estes trabalhem para os partidos políticos e não para o povo brasileiro; burocracia nefasta e até criminosa, redundando muitas vezes em impunidade generalizada, principalmente em relação aos criminosos do “colarinho branco”; leis lenientes e tolerância interminável com os infratores etc.
Portanto, o que a sociedade brasileira precisa, urgentemente, é sair dessa inércia e omissão criminosas, e expressar sua indignação com ações efetivas em relação à corrupção. Criticamos os políticos e queremos que estes mudem o seu modus operandi, mas não fazemos a nossa parte como cidadãos e cidadãs. Precisamos mudar a nossa forma de agir. Já ficou provado que operações policiais e/ou judiciárias a exemplo, das conhecidas “mensalão”, “lava jato” etc., são importantes, mas estas por si só não livrarão o Brasil da corrupção, pois infelizmente o vírus letal deste mal está infiltrado em todos os poderes e já contaminou parcela significativa de autoridades e gestores públicos, fazendo com que a impunidade continue reinando sob a proteção deste nefasto “Sistema” corrupto. Assim sendo, é imperioso que a sociedade lute pela reconstrução e o fortalecimento de instituições públicas fortes e confiáveis, e que o “joio” não predomine sobre o “trigo”, e isso só será possível se a população, que detém o poder soberano sobre os demais poderes da República, assumir para si esta empreitada de fiscalização, cobrança e punição efetiva aos culpados, independente da sua posição social, política e de poder.
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TURISMO - 19/12/2024