João Pessoa, 20 de setembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Não saberia viver sem os meus livros. Gosto de tê-los sempre por perto, mesmo que não os leia. A propósito, vejo este ou aquele na estante sempre à disposição, como alguma coisa que está ali, no seu silêncio, no seu repouso, no seu encanto, na sua gratuidade, inteiramente entregue aos vocativos da descoberta e do compartilhamento.
Vê-los assim só me faz bem. Olhá-los, mensurar o seu formato, escutar o pulsar de suas mensagens secretas constituem como que um ritual que acolhe e acalma. Acolhe o desejo vocabular desse estranho leitor e acalma suas inquietações de ser angustiado e aflito, de criatura que não escapa à agonia da transcendência na imanência.
Nem sempre estou lendo os meus livros. Importa-me, sobretudo, que eles me façam companhia: no dia, na noite, na madrugada, como gloriosas partículas da eternidade no corpo do tempo.
Sou finito, mas meus livros não o são. Cada livro me parece a prova de ouro de que o infinito habita a domesticidade do ordinário, de que a prosaica rotina da vida pode ser colorida com os sabores extraordinários que habitam a casa das palavras.
Não me parece necessário, em toda situação, o ato de ler. Claro que ler é essencial. Mais que essencial, ler é uma maneira de ser feliz, de frequentar magias e maravilhas de outros mundos, de conviver com múltiplos personagens e de se descobrir dentro de outras travessias.
Mas nem sempre me sinto disposto para enfrentar o sortilégio dessa voluptuosa aventura. Prefiro me sentar na poltrona, dentro da biblioteca, e ficar apenas observando meus livros arrumados nas estantes, a curtir a beleza da solene simetria que os enfileira e une no espaço das prateleiras. Existe, não tenho dúvidas, uma tácita e sutil comunicação entre nós. Uma espécie de miraculosa cumplicidade que me dá sossego e segurança.
Aqui, lembro-me de Michel de Montaigne, um de meus guias e mestres espirituais, quando, referindo-se aos livros, em “Dos três comércios”, Livro III, Cap. 3, assim se pronuncia:
{…} E o tempo corre sem que eu me irrite, pois basta-me sabê-los a meu lado, capazes de me proporcionar um prazer no momento oportuno, ou um alívio quando deles precisar. É a melhor munição que existe para essa viagem humana, e lastimo os homens inteligentes que a desdenham”.
Concordo e assino embaixo!
Sou leitor, sei, leitor insaciável e onívoro, porém, também me contento só com possuí-los, os meus livros; só em levá-los comigo para aonde for, só em tê-los em qualquer lugar e a qualquer hora onde estiver, bem pertos de mim.
Tenho em minha casa a minha biblioteca, ou seja, o ambiente especial dos livros. Mas os livros, no entanto, estão em toda parte. Há livros na sala, no quarto, no corredor, na cozinha e no terraço.
Também não viajo sem livros, nem na paz nem na guerra, como me ensina o meu mestre. Carrego livros no carro e na bolsa. Se estou na fila, se estou nas salas de espera, se estou na praça, se estou no bar, na piscina ou na praia, no alpendre da casa ou no campo sob a sombra de uma árvore, trago sempre uns livros comigo.
Nem sempre os leio, como já disse. Apenas os quero bem perto de mim. E isto é bom e isto me alegra o espírito.
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(Em tempo: a coluna de hoje é para Francisco Gil Messias, Cleanto Gomes Pereira e Adailton Lacet, que amam os livros).
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OPINIÃO - 22/11/2024