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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Na corda bamba

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publicado em 09/10/2023 ás 07h00
atualizado em 08/10/2023 ás 18h51

Nunca gostei de precipícios. Sempre fui acrofóbica. Gosto da sensação de segurança, de ter os meus pés firmes no chão. Cronometrar o tempo. Hora para dormir, hora para acordar. Ter uma lista das atividades diárias. Lista do que colocar na mala dias antes de viajar. Lista de compras. Metódica, enfim. E a maternidade aguçou isso, afinal, eu precisava estar segura, agora não só por mim, mas por pequenos seres que dependiam diretamente da minha existência.

O que era apenas um estilo metódico de vida transformou-se em medo. O medo de morrer, o medo de fracassar como mãe, como pessoa, como filha, como esposa, como profissional. O medo.

Mas os perigos estavam sempre lá. Não havia como impedir que eles surgissem. Então, o inesperado veio.

O medo e o primeiro fracasso trouxeram a ansiedade. E o que vivia apenas no campo mental, evidenciou-se fisicamente.

Um mal silencioso, impalpável, invisível. Não dá para fazer um torniquete. Não dá para fazer um curativo. Tira sua paz, mas também tira o ar de seus pulmões.

Sensação constante de ter um precipício aos pés. A sensação de que, ao menor vacilo, o chão sob nós vai desaparecer.

Sensação de que um único fracasso te fez a pior mãe, a pior filha, a pior profissional. A pior pessoa. Ou seja, a pior forma de se viver. Um sobreviver constante.

Então eu decidi fingir. Fingir que não estou cansada e ir mesmo assim. Fingir que não estou com medo e subir a escada mais alta. Fingir que tenho coragem e ir com medo mesmo.

Ir, seguir, caminhar, enfrentar. Encarar minha “criptonita”.

A vida não espera pelo momento de coragem.

A vida não espera por nós. Ou seguimos viagem com ela ou paramos. E, se pararmos, teremos fracassado do mesmo jeito.

Essa é a nossa humanidade. Melhor a encararmos de frente, com seus erros, acertos, vitórias e fracassos, do que se olhar no espelho e enxergar um super herói que só existe nas revistas em quadrinhos.

Enfim, sou esse ser. Erro pra caramba! Mas também acerto. Morro de medo, como um ratinho indefeso, mas também avanço como uma leoa, quando necessário.

Os precipícios? Estarão sempre lá.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB