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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Por que o “Crack” vicia rápido e aumenta a violência?

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publicado em 10/10/2023 ás 07h00
atualizado em 09/10/2023 ás 20h31

O uso indevido e abusivo de drogas é um combustível altamente inflamável para impulsionar a prática de outros atos infracionais, especialmente em se tratando do “crack”, inevitavelmente associado à violência. Mas, afinal de onde surgiu esta droga tão danosa e viciante, e por que esta denominação “crack”?

O “crack” nada mais é do que cocaína em forma de pequenas pedras. Ou seja, a cocaína pode se apresentar de formas variadas, sendo o pó ou sal (cloridrato de cocaína), a mais comum, podendo ser encontrada em forma de pasta (pasta base de cocaína, merla, mescla, oxi etc.), ou em forma de pedra (base), sendo esta apresentação conhecida como “crack”.
A denominação, crack, tem relação com o termo “to crack” do vocabulário inglês que entre outros significados, também pode ser usado como sinônimo de: quebrar, estalo, estampido, barulho etc. E essa droga quando está sendo preparada (cozida), ou consumida (fumada) pelos usuários, a sua combustão emite um pequeno barulho (estalo), daí a denominação “crack”, ou seja, é uma alusão ao barulho que é emitido pela cocaína quando submetida a queima (combustão).

A cocaína na forma de pó (sal), tecnicamente denominada de cloridrato de cocaína, não é consumida na forma fumada, pois seria necessário uma temperatura muito alta o que impossibilita tal prática pelos usuários. Já o crack (cocaína base), é geralmente fumada, pois este se volatiza em temperaturas bem mais baixas. E qualquer droga consumida na forma fumada provoca efeitos bem mais rápidos, uma vez que é absorvida instantaneamente pelo organismo. Desta forma, o crack, provoca nos seus usuários efeitos intensos e de curta duração, não mais que cinco a dez minutos. E assim sendo, o usuário sente a necessidade de consumir várias vezes em um curto espaço de tempo. Este é o principal motivo da instalação rápida do vício, pois o poder viciante de qualquer droga é diretamente proporcional à repetição do uso. Ou seja, quanto mais vezes a pessoa usa em intervalos curtos de tempo, mais rápido se tornará dependente daquela substância.

A fissura, (desejo intenso e geralmente incontrolável) de consumir o crack acontece exatamente pel efeito intenso e rápido desta droga, sendo este o principal motivo dos usuários do crack permanecerem nas ruas aglomerados na busca de uma nova “pedra”, surgindo assim, as famosas “cracolândias”.
Assim sendo, ou seja, o uso desenfreado e frequente, exige dos usuários/dependentes, custos financeiros constantes, por isso, costumamos dizer que onde chega o crack chega também a violência. Inevitavelmente, esta droga sempre traz a reboque outras atividades ilegais, como: prostituição de menores, furtos, roubos, assaltos e até homicídios, para assim poderem financiar o vício.

O Brasil é o maior consumidor de crack do mundo, e tal fato, tem se configurado no principal combustível para a violência no país. Os impactos disto estão presentes na segurança pública, na saúde pública e nas relações sociais e familiares. Muitas vidas estão sendo precocemente ceifadas ou destruídas social e profissionalmente.

Contudo, o poder público brasileiro nunca tratou este problema com a atenção exigida. As únicas ações existentes efetivamente são aquelas voltadas para a repressão ao tráfico. Estas, a meu ver, apesar de importantes e necessárias, jamais conseguirão resolver esta grave situação. Tão ou até mais importantes que a repressão aos traficantes é a implementação de campanhas preventivas educativas desde os primeiros anos de vida da criança, persistindo na adolescência até a idade adulta, com informações seguras e transparentes que visem desestimular o uso indevido destas substâncias, inclusive as lícitas e até as farmacológicas, quando não prescritas pelo profissional competente. E ainda o incremento de equipamentos e profissionais treinados para o atendimento e cuidados necessários aos usuários, dependentes e seus familiares.
Infelizmente, a omissão generalizada dos gestores públicos e das famílias em geral, que costumeiramente só se preocupam quando o problema bate diretamente na sua porta, está conduzindo o Brasil a uma situação de “metástase” em relação a esta doença drogadição. Temos nos preocupado apenas com nossas causas individuais, e, se assim continuarmos, iremos certamente ser conduzidos a uma catástrofe coletiva.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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