João Pessoa, 29 de outubro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
(para a professora Zarinha)
Carlos Drummond de Andrade é, sem dúvida, o maior poeta brasileiro. Não tem outro. Temos Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos, Haroldo Campos, Ferreira Gular, João Cabral de Melo Neto, Mario Quintana, Mário de Andrade e outros, mas Drummond é o maior.
Sem o menor receio de ser tomado pelos imbecis, presumo que a poesia estimula meus delírios, e desde logo, chego a ela pensando que poderei viajar com todas as dificuldades dessa arte incrivelmente difícil, que é a boa prosa.
Assim, penso que a posteridade é responsável ao nos indicar a composição dos versos, mas é ela também quem aponta para o melhor poeta brasileiro. Não estamos a falar em fileiras e também o gênero de muitos usurários que todos os dias encontram formas de mostrar seus versos, e se afirmando poetas. Tenha paciência.
Quem mais alimenta essa assertiva de que arte pode funcionar como uma ligação de palavras, não tem ideia de como Drummond escreveu milhares de poemas, como se as palavras fossem suas, e não do idioma. Creio que o poeta de Itabira não escrevia para os troca-tintas do ego, sendo que qualquer leitor com algum discernimento consegue dar-se conta da superioridade dessa investida. Drummond não dava uma hora.
A este respeito, Ezra Pound deixou um aviso essencial: “Não pense que a arte da poesia é de algum modo mais simples que a arte da música, ou que pensa agradar ao especialista antes de fazer, pelo menos, tanto esforço na arte do verso como o vulgar professor de piano gasta na arte da música…” Deveríamos parar por aqui, mas o espaço da coluna pede mais.
Ezra adianta ainda que, se o cientista não espera ser aclamado como um grande cientista até ser descoberta alguma coisa, isso obriga-o a começar tudo de novo. Pode ser por aí…
Aprender com os versos de Drummond é a melhor escola, o cara fala do leiteiro, da nudez, do amor, da pedra, do caminho, do vestido, das cidades; suas descobertas da linguagem corrente, temas do cotidiano, reflexões políticas e sociais e desse ponto, podemos partir para o esforço de impor algo novo. É difícil. Não tem.
É natural que os novos poetas que estão sempre de malas feitas, distribuídos pelas escalas, sempre à espera de um lugar na literatura, nunca o da posteridade, não são poetas, e, certamente detestam a figura do crítico, (e eu não sou crítico de nada, sou de virgem ascendente escorpião ou signo nenhum) aquele que segundo Walter Benjamin encara o seu papel como o de um “estratega do combate literário”. Foi Benjamin quem disse que nos anos 80 não haveria espaço para ninguém dentro dos aposentos.
Quem lê Drummond sabe que a fonte é inesgotável e, como ele entendia que os versos, com ou sem rimas se firmavam na vida da gente e não era um mero pica dessa composição.
Para ler Drummond não precisa da interpretação, estamos lá, os humores que nos levam para a possível eternidade. O poeta sim, ficou para a eternidade, seus indicativos, flechadas. É como se ele estivesse sempre lançando venturas, suas noites de prazer, e de algum modo, um pajé do seu tempo.
Sempre atento, Carlos Drummond de Andrade é de um Belo Horizonte, que ele mesmo admitiria que, se chegasse de fato muitos aplausos e elogios, logo o desiludiria. O poeta maior brasileiro parecia ser tímido, mas só parecia. Era um danado!
Kapetadas
1 “A guerra é um massacre entre gente que não se conhece para proveito de pessoas que se conhecem, mas não se massacram.” (Paul Valéry, 1871-1945, escritor, poeta e filósofo francês.)
2 – Pela indisposição do Hamas e de Israel, cessar-fogo na Faixa de Gaza só quando lá faltar vítimas.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
TURISMO - 19/12/2024