João Pessoa, 07 de novembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um dia destes, conversei com um atirador de facas. Fazia muito calor no centro da cidade, e ele me convidava para sentar à mesa, em que almoçava. Eu tinha ido ali pegar uma quentinha. Perguntei se ele era funcionário público, balançou com a cabeça que não, pelo menos não falava de boca cheia.
Vi logo que era um erro de sincronia, um repórter já velho e os meus tempos avançados, outros rumos investigativos e nenhum enredo trágico em suma. Estava com um atirador de facas, face a face.
Seja com for, o que tenha sido, a quiromancia estava no ar. Eu explico. Não, eu não explico nada. É como se fosse um romance e a mulher dos meus sonhos chegasse até minhas insônias, e me fizesse dormir. Mas eu não tenho mais insônias…
Em pleno século XXI, como se costuma dizer, nada é de graça, sequer o encontro com um atirador de facas. Um mundo apodrecido, guerras e milhões jogados fora, crianças mortas como se fossem filhos bastados de Herodes, sem que ninguém dê por isso. É triste, tão triste. Na mesa frutas maduras dormem nessa uma onda de destruição da vida.
Abro as mãos para o redentor minúsculo da avenida Beira Rio, melancólico, o Jesus da poesia de Drummond, que está sempre pensando em outra humanidade, um Jesus virtuoso, menos cansado com os braços pregados na santa cruz. O atirador disse logo que era ateu.
Longe da medida dos meios-dias, meus dias, sem o tédio magnético dos opostos celulares, pago o café que não tomei quando descubro que o atirador de facas vendia romance de cordel noutra quina da calçada e trazia a cara de Ariano Suassuna na capa. Sem eu perguntar o preço, 5 reais, ele me entrega três cordéis. Pobre Ariano
Cadê minha faca cega amolada?
O atirador virou um arlequim de joelhos fazendo cenas retroativas nos velhos manuais de anatomia, mas eu não dei cartaz. Quis matá-lo ali mesmo, diante do PF.
Hei de cegá-lo com a faca de mesa, a namorada do garfo, que cortava as proteínas no restô Aspargos, centro de João Pessoa.
Me levantei irado, tirei a faca da cintura atravessada verticalmente entre meus dentes e fiz cara de mal.
Toda nossa conversa durou 1 minuto e 40 segundos e sai correndo entre ossos quebrados, cantando: boemia aqui me tens de regresso. Fim
A Magia do Amor
A música dos relógios das igrejas me lembra amores antigos.
Eu e ela nos parezeres do futuro, retinas, lábios rachados, lábios fechados, boca calada, lábios que eu beijei, lábios perto do coração selvagem, marés de orgasmos e uma série de vastas décadas prolongadas. Milagre, o milagre existe!
O atlas dos acontecimentos, longe das más-línguas, chega à superfície, como se fossemos o Vesulvio. Eu não existo sem querer buscar mais.
O amor ali na porta da mercearia, o chocolate na boca, a coca zero e uma garrafinha de água. E nada mais.
Kapetadas
1 – Celebridade rala muito tempo para ser notícia e, quando consegue, não quer mais receber a imprensa.
2 – É uma contradição viver na Via Láctea e ter restrição à lactose.
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OPINIÃO - 22/11/2024