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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O atirador de facas

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publicado em 07/11/2023 ás 07h00
atualizado em 07/11/2023 ás 17h15

Um dia destes, conversei com um atirador de facas. Fazia muito calor no centro da cidade, e ele me convidava para sentar à mesa, em que almoçava. Eu tinha ido ali pegar uma quentinha. Perguntei se ele era funcionário público, balançou com a cabeça que não, pelo menos não falava de boca cheia.

Vi logo que era um erro de sincronia, um repórter já velho e os meus tempos avançados, outros rumos investigativos e nenhum enredo trágico em suma. Estava com um atirador de facas, face a face.

Seja com for, o que tenha sido, a quiromancia estava no ar. Eu explico. Não, eu não explico nada. É como se fosse um romance e a mulher dos meus sonhos chegasse até minhas insônias, e me fizesse dormir.  Mas eu não tenho mais insônias…

Em pleno século XXI, como se costuma dizer, nada é de graça, sequer o encontro com um atirador de facas. Um mundo apodrecido, guerras e milhões jogados fora, crianças mortas como se fossem filhos bastados de Herodes, sem que ninguém dê por isso. É triste, tão triste. Na mesa frutas maduras dormem nessa uma onda de destruição da vida.

Abro as mãos  para o redentor minúsculo da avenida Beira Rio, melancólico, o Jesus da poesia de Drummond, que está sempre pensando em outra humanidade, um Jesus virtuoso, menos cansado  com os  braços pregados na santa cruz. O atirador disse logo que era ateu.

Longe da medida dos meios-dias, meus dias, sem o tédio magnético dos opostos celulares, pago o café que não tomei quando descubro que o atirador de facas vendia romance de cordel noutra quina da calçada e trazia a cara de Ariano Suassuna na capa. Sem eu perguntar o preço, 5 reais,  ele me entrega três cordéis. Pobre Ariano

Cadê  minha faca cega amolada?

O atirador virou um arlequim de joelhos fazendo cenas retroativas nos velhos manuais de anatomia, mas eu não dei cartaz. Quis matá-lo ali mesmo, diante do PF.

Hei de cegá-lo com a faca de mesa, a  namorada do garfo, que cortava as proteínas no restô Aspargos, centro de João Pessoa.

Me levantei irado, tirei a faca da cintura atravessada verticalmente entre meus dentes e fiz cara de mal.

Toda nossa conversa durou 1 minuto e 40 segundos e sai correndo entre ossos quebrados, cantando: boemia aqui me tens de regresso. Fim

A Magia do Amor

A música dos relógios das igrejas me lembra amores antigos.

Eu e ela nos parezeres do futuro, retinas, lábios rachados, lábios fechados, boca calada, lábios que eu beijei, lábios perto do coração selvagem, marés de orgasmos e uma série de vastas décadas prolongadas. Milagre, o  milagre existe!

O atlas dos acontecimentos, longe das más-línguas, chega à superfície, como se fossemos o Vesulvio. Eu não existo sem querer buscar mais.

O amor ali na porta da mercearia, o chocolate na boca, a coca zero e uma garrafinha de água. E nada mais.

Kapetadas

1 – Celebridade rala muito tempo para ser notícia e, quando consegue, não quer mais receber a imprensa.

2 – É uma contradição viver na Via Láctea e ter restrição à lactose.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB