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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Fuxiqueiros

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publicado em 17/11/2023 às 07h00
atualizado em 17/11/2023 às 07h47

Parar, pensar na vida das outras pessoas poderia ser um bom exercício para um fuxiqueiro. Não para ele fuxicar. Desse mister, ele tiraria férias. Essa parada obrigatória seria para refletir, retirar-se do foco, desentupir-se de si mesmo, contornar o cabo das suas tormentas e enxergar a humanidade que está no seu entorno clamando por cuidados.

Há uma diferença substantiva entre essas duas paradas. Fuxicar é querer prender o outro a partir das próprias rabugices. Requer proximidade, possibilidade de domínio, gozo sórdido. Pressupõe, no mínimo, três pessoas: o fuxiqueiro, o cúmplice, que é outro fuxiqueiro, e o outro, o objeto do fuxico.

Bem diferente ocorre com a preocupação legítima com a humanidade. Quem ama, cuida, diz o poeta. É atenção autêntica  às dificuldades do outrem, por isso, não é mesquinha, mas da coletividade; não é avara, mas se estende além, amplificadora; não se dá ao pé do ouvido, sorrateira. As legítimas preocupações com o outrem são públicas, políticas, ou tecidas no silêncio, o sagrado palpitar dos corações das almas que ajudam.

Pelo contrário, o fuxico é espelho, egoísmo, interesse pessoal, maldade, por isso requer objeto próximo e conhecido. Sim, o fuxiqueiro faz das pessoas um objeto e nele põe a sua mesquinhez. O sorriso falso pelo canto da boca, simulacro de agrado, tentativa de autoafirmação, terra seca, víbora peçonhenta, língua bifurcada, como diz a pastora youtuber que fala com Jesus.

Todo fuxiqueiro é frouxo. Aprecia a alcova, onde ele possa controlar a situação; é disfarçado, insinuante, atroz. O encontro de dois fuxiqueiros é um evento singular, cada qual ao seu modo se fazendo de amigo, sujando um ao outro pela  recíproca diarreia que destilam das suas bocas sujas.

Preocupar-se com as tempestades alheias sem o interesse mesquinho dos fuxiqueiros requer distanciamento de si, olhar profundo para o eu por uma perspectiva libertadora, política, ou silenciosa, sem buscar céu para si mesmo nem inferno para os outros.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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