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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Nós e os outros

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publicado em 19/11/2023 ás 07h55
atualizado em 19/11/2023 ás 08h21

Pode ou deve haver um modo que explique tantas perguntas, nessa desorganização e desassossego de cada um. A pessoa chega pra mim e diz: “porque você não pinta seu cabelo?” Na idade em que estou, com os cabelos grisalhos, ainda respondo: que cor?  A Cor Púrpura é o filme da minha vida,

Essas imagens caretas e narrativas dirigidas sem cabimento, gente que não tem outra forma de abordar e, claro, para puxar conversa precisa ter um elo, mas não, se acham no direito de fazer perguntas idiotas. Uma pessoa me pergunta todos os dias se estou chateado? Eu não tenho mais com que ficar apoquentado. Yes nós temos banana.

Voltava de uma festa e era cedo, tipo 22h, quando sou parado numa blitz. O policial perguntou se queria fazer o bafômetro. Eu disse que não. Ele insistiu e eu disse, meu senhor, eu sou evangélico, não bebo, nem fumo. Ele já estava com minha CH nas mãos e chamou o outro policial, cochichou e depois disse: “desça, é melhor fazer o bafômetro”. Nem precisa dizer o resultado, claro, não bebo desde a pandemia.

Como autêntica indústria da vida alheia, o tempo todo a gente está a ser indagado. Minha mulher diz: “vai pra onde?” Eu digo: pra canto nenhum. “E essa roupa? Comprei num brechó, para o samba que Noel me convidou. Gostou?

Posso ser, não “soul” uma pessoa quieta e começo a cantar: se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser eu bebo, não me interessa mais ninguém…

Deve haver um, milhares de motivos pra pessoa ficar em silêncio, porque a vida a dois parece um interrogatório. Quando eu chegar no céu (não é possível, que eu tenha que fazer conexão no inferno) certamente São Pedro, vai dizer. Ué, já chegou? Aí eu digo sou irmão do Bandeira e entro sem pedir licença.

Minha professora pergunta sempre:  que livro você está lendo? É uma boa pergunta: que livro você está lendo, amiga Jória Guerreiro? Às vezes eu pergunto ao uber: você é daqui? Pergunta besta, mas não consigo ficar com um cara que não conheço sem puxar um assunto, durante a travessia. “Sim, eu nasci aqui”. É casado, tem filhos, aí já chega outro chamado e o término da viagem.

Eu fico tentando encontrar uma maneira de traçar uma explicação possivelmente tão mais cômoda feita à natureza da gente. É assim: a cena tende a principiar na sacudidela, levanta sacode a poeira e se manda.  Eu sempre digo o óbvio a uma mulher bonita, que ela é linda.

Mudei o canto de estacionar meu carro nas imediações do Tribunal. Todo dia o cara perguntava: “vamos lavar hoje, doutor?” Eu dizia: rapaz ainda não conclui o doutorado.

Tantas perguntas todas que nós fazemos nos velórios, nas festas, nas exposições, nos restaurantes, sim, nós que eu digo é todo mundo, menos os afônicos, daltônicos e Totonhos. Saco!

Afinal qual a pergunta que não quer calar? Boca fechada, nada, boca seca, ronco. Recordar não é viver, é inventar, cutucar com vara curta, simular elogios mentirosos e ser falso. Outro dia uma pessoa que não posso dizer o nome, me perguntou se o rei é falso? Geralmente a gente pergunta se Ana Bolena está gostando? Quem é Ana Bolena? Ah, Ana de Amisterdã, Ana de 20 minutos, Ana Maria, Mariana, Ana Cláudia, Ana Amélia, são tantas perguntas.

E aí gostaram do texto de hoje?

Kapetadas

1- Tudo é uma questão de opinião que normalmente ninguém pediu.

2 – Por que o N é sempre de Navio e não de Não gosto de quem fala comigo, me puxando ou pegando pelo braço, no ombro, joelho e pé. Cuspindo, nem se fala

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB