João Pessoa, 21 de novembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Coragem. Onde andará meu cão Dorival, tão bonito, caramelo e olhos verdes. Um dia ele sumiu e reencontramos um cachorro apaixonado por uma cadela chamada Pretinha, que vivia no estacionamento do Supermercado Primo, bem perto da casa da gente, onde hoje é o Pão de Açúcar.
Morreu atropelado, de frente ao supermercado.
Ouço o coração, sinto bater.
Meu pai tinha uma cachorra branca com pintas marrons, não lembro o nome dela. Era linda, grande, vivia no muro do Jatobá Clube, porque minha mãe não queria a cadela em nossa casa. Como a gente cede pelas mulheres da gente, pelo amor delas, sem precisar maltratá-las, jamais.
Eu não vou estar arrependido de ter vivido, ter amado pessoas, mas aprendi muito mais com os cães, eu sei. Eles chegam a ser insuportáveis por nos amar demais. Eu fico triste com a natureza humana, a arrogância, intolerância, o disse-me-disse.
Erámos felizes.
Quando meu filho era garoto assisti com ele várias vezes o filme “O Pequeno Stuart Little”, um filme animado estadunidense de 1999, comédia e aventura, dirigido por Rob Minkoff. Stuart Little conta a história de um ratinho animado, adotado pela família Little, que passa a enfrentar as divergências do gato da família, chamado Snowbell.
Quando Dorival morreu, ganhamos um perdigueiro lindo e colocamos o nome dele de Snowbell. Era elegante, charmoso, o mais educado impossível. Já era um rapaz, quando foi roubando, pela primeira vez.
Dois meses depois, ele fugiu e voltou para casa. As batidas no portão, o dia amanhecendo era o nosso cão de volta. Tempos depois, roubaram novamente e dessa vez, não voltou mais.
Os rios nos levam, levam e lavam tudo – amores, amigos, gatos e sapatos.
Onde eu posso me encontrar, encontro abrigo, eu fico, eu sigo, eu também tenho faro, eu sei encontrar, me encontrar e me refazer, mas não sei até quando.
Cansa minha cabeça gente que repete as conversas. A cabeça batuca, eterno perdão, mas perdão de quê, pra quê?
Voltei a caminhar de madrugada – chego no mar encontro poemas nas mãos de idosos com seus cães, são passageiros da melancolia, quase invisíveis, para o que mais não sei.
É isso, aprendo com os cães e desaprendo com os homens. Sou levado até o leito do rio. Haverá alguém do outro lado? A essa altura?
Kapetadas
1 – Cama não precisa arrumar, né?
2 – Tão feio que é um crime ter duas caras
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OPINIÃO - 22/11/2024