João Pessoa, 15 de março de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Uma semana após a retenção da aposentada Dionísia Rosa da Silva, de 77 anos – que ficou três dias no aeroporto de Barajas, em Madri -, Brasil e Espanha trocam queixas em relação ao tratamento que seus respectivos cidadãos têm no setor de imigração. Pela segunda vez desde o episódio, o governo brasileiro pediu às autoridades espanholas que expliquem o caso de Dionísia e também apurem outras denúncias de maus tratos a brasileiros. Enquanto isso, a imprensa espanhola fala em "guerra bilaterial de fronteiras" e reclama que o Brasil teria endurecido o controle para a entrada de espanhóis, por meio da chamada política da reciprocidade.
No início de fevereiro, o governo brasileiro resolveu que, a partir do dia 2 de abril, vai exigir dos turistas espanhóis o mesmo que é exigido aos brasileiros na imigração daquele país, fazendo valer a política de reciprocidade, comum na diplomacia. Os espanhóis, por sua vez, reclamam que as regras estão sendo usadas antecipadamente.
— A reciprocidade é uma aplicação do que consideramos adequado para filtrar também a entrada de cidadãos espanhóis e, claro, refletindo o que eles acham também necessário para a entrada de brasileiros. Tentamos por um bom tempo aliviar os requisitos para a entrada de brasileiros. Não foi possível. Eles mantiveram e não houve muita alternativa ao Brasil a não ser aplicar também esses requisitos – disse o chefe de comunicação do Itamaraty, o embaixador Tovar da Silva Nunes
Segundo ele, as regras mais rígidas valem apenas para a Espanha e não para os demais países da União Europeia que não exigem visto de entrada, como a França.
Dionsía foi retida no setor de imigração no último dia 5 ao tentar entrar na Espanha, onde encontraria sua família. Ela denunciou ter passado 72 horas em um quarto de Barajas, sem acesso a sua bagagem, sem tomar banho ou se alimentar direito. Informou-se, depois, que ela não teria a carta-convite, documento necessário para ingressar no país. A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, entregou uma carta ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, pedindo a apuração do caso.
Segundo o Itamaraty, com a carta da ministra, a chancelaria brasileira reforçou os pedidos de apuração ao governo espanhol.
– A carta da ministra deu mais força ainda. Estamos reiterando, por nota verbal ao governo, formalizando o pedido de explicações especificamente sobre a senhora Dionísia e acrescentando, por iniciativa do Itamaraty, o pedido de explicações sobre alegados maus tratos a cidadãos brasileiros que tentam entrar em território espanhol – disse o chefe de comunicação do Itamaraty.
‘Não me deram a oportunidade de explicar nada’, diz espanhol barrado
O jornal catalão “La Vanguardia” relata, em reportagem publicada na quarta-feira, o caso de um executivo espanhol que, tendo todos os documentos solicitados, foi impedido de entrar no Brasil pelos funcionários do aeroporto de Guarulhos, disparando o alarme sobre a aleatoriedade das autoridades migratórias brasileiras. Na fila de controle de passaportes, os espanhóis teriam sido separados dos demais estrangeiros. O Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha considera que este foi um problema pontual.
Segundo o “La Vanguardia”, no último dia 2 de março, o diretor de uma escola de negócios Pablo Ferreirós, de 28 anos, viajou a São Paulo para um ciclo de conferências sobre educação em diversas cidades brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba). Apresentou a carta-convite do presidente da feira educativa, que organiza as palestras, as passagens para todos os voos internos que faria, assim como o voucher dos hotéis, além de dinheiro, cartões de crédito e a passagem para os Estados Unidos, para onde iria quando acabasse seu compromisso no Brasil. Ferreirós, no entanto, foi devolvido para a Espanha no mesmo voo, 45 minutos depois de ter desembarcado em Guarulhos, sob o argumento de que, como era uma viagem profissional, deveria ter um visto de trabalho.
Oito dias mais tarde, Ferreirós voltou a viajar para o Brasil, desta vez a Porto Alegre, já que, no dia 10, o evento itinerante estaria lá.
– Não me trataram mal, mas não me deram a oportunidade de explicar nada. Quando estava na fila do controle de passaportes, um funcionário do aeroporto perguntou quem era espanhol e pediu todos os documentos. Meu contato com ele foi de cinco segundos. Pegou meus documentos, perguntou o motivo da minha viagem e me mandou esperar junto com outros sete ou oito espanhóis. Achei normal. Mas daqui a pouco quem veio falar comigo foi um empregado da Iberia, dizendo que o Brasil me exigia visto de trabalho e, por isso, ordenavam que eu embarcasse imediatamente. Fiquei surpreso e disse que queria falar com o consulado, mas o empregado da companhia aérea não podia fazer nada. Não consegui falar com nenhum policial, com nenhum funcionário do aeroporto. Ninguém se dirigia a mim – contou Ferreirós ao GLOBO.
No mesmo avião, voou pelo menos outro espanhol barrado em Guarulhos, segundo conta o executivo.
O Globo
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