João Pessoa, 24 de novembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Do velho rádio lá de casa eu nem falo. Tinha três metros de comprimentos, precisava de seis ou oito pilhas e só funcionava quando batíamos na sua bunda ou quando enfiávamos algum palito de fósforo em suas sutilezas mais profundas.
Falo do rádio novo de padrinho Antônio, o meu cunhado. Era cem vezes menor e não tinha a potência que tinha o meu antigo rádio de mil anos, quando expelia, ainda que com tosse brava, a poderosa voz de Jorge Cury:
Gooooooooooolaçoaçoaço….Meeeeeeeeeendonça, camiiiiiiiiiisa número 7!
Porque o velho radio já morria nos infortúnios da velhice, o rádio de padrinho Antônio servia muito bem para eu assistir aos jogos de futebol na Rádio Globo. Comecei torcendo pelo Vasco da Gama, mas quando o clube da cruz de malta enfrentou o Botafogo, o nome daquele time que botava fogo pelas ventas tomou conta da minha mente e coração.
Cheguei tarde. O Botafogo deixara as suas campanhas gloriosas para trás e conquistava novos torcedores pela fama, não por títulos e conquistas. Tirando a alegria de 1995, quando conquistou o campeonato brasileiro, nada, a não ser os arroubos da fumaça outrora expelida do vulcão adormecido : Bo-ta-fogo-go!
Eu tinha doze anos. Já começava construir minha fama de excelente driblador nos campinhos esburacados de Areias, Cafundo, Várzea de Cacimba e Fazenda Nova, onde ainda reinavam, absolutos, deuses da bola, Caititu e Toinho Mathias ( Paturi).
Então, durante as partidas e, depois, para adormecer, talvez, porque na zona rural em que morávamos não restavam melhores alternativas, era preciso sonhar com qualquer coisa. Padrinho Antônio sonhava com diamantes e, pela manhã, contava o sonho para quem quisesse ouvir.
Eu também sonhava. Silencioso. Dentro do Maracanã, driblando um, dois, três, deixando-os vencidos, a baba de Waldir Amaral escorrendo pela boca, bola colocada no cantinho, goleiro caído: gol, gool, gool, golaaaaçoaçoaçoaço!
A vida era assim, naqueles tempos.
@professorchicoleite
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TURISMO - 19/12/2024