João Pessoa, 25 de novembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Meu primeiro encontro com ela foi em 1977. Era uma menina linda, de 4 anos. Fiquei apaixonado, de modo que não limitei os afetos, até formar o que se possa chamar de divino.
Eu estava no bairro do Cristo Redentor, na casa da mãe dela, Socorro, e de seu marido, que não lembro o nome. Consegui o endereço, também não sei como, peguei um ônibus e fui procurar a rua. Fui o primeiro tio a colocar Janaína nos braços.
Fiquei andando na pequena sala da casa, uma casinha, com Janaína nos braços. Eu gosto muito de colocar crianças nos meus braços. Dá uma sensação de humanidade.
Como é preciso amar as crianças, e esse amor, a maneira de começar, é tão bonito…
Janaína nasceu alguns dias antes de seu pai morrer, meu irmão Osvaldo, aos 33 anos. Ele era o mais velho, nascido em 1940. Daquele encontro tivemos outros, muitos, até que ela cresceu virou uma moça e nesse tempo meu irmão William já morava em João Pessoa e conheceu Janaína – depois, todos os tios e tias a conheceram.
O percurso separa a gente, as mortes, separam muito mais. Acho que ela nem soube que o tio William morreu, não a vi no velório. Ela ia sempre a casa dele tomar banho de piscina, almoçar e durante um período ficamos mais juntos, muito familia.
A última vez que nos encontramos foi na padaria de Dona Olga Pinto, na esquina da Maximiano Figueiredo com D. Pedro II. Foi rápido, eu estava apressado como sempre, nos abraçamos e nunca mais, nunca mais. Dona Olga Pinto era uma mulher brilhante.
Janaína é tão bonita.
Janaína hoje está com 50 anos. Até agora, o tempo tem sido de saudade e o meu desejo de reencontrá-la, tentar outra forma, não sai de mim. As pessoas mudam tanto o número do celular. Eu nunca mudei
Eu queria encontrar Janaína de novo, farei o impossível para vê-la numa cena necessária, para fazer feliz meu coração, 50 anos depois do náufrago, que foi a morte de seu pai – que é outra história dolorosa.
Já procurei nas redes sociais – são tantas Janainas. Eu disse a ela que seu nome é o nome da rainha do mar Iemanjá, um mar que se afunda à medida que as ondas passam.
Não há mais fios condutores entre nós, só o sangue nas veias, parentes do sêmen. Talvez o fantástico e o insólito nos aproxime outra vez.
Viver é uma longa procura e tem o destino individual, de vidas em trânsito, a sobrevivência, a consciência, o verbo amar e a morte como certa.
Esse texto não morre aqui. Eu vou encontrá-la, eu vou, eu vou.
Kapetadas
1 – Vida besta – É como disse o marceneiro: “não adianta pregar no deserto”.
2 – Mudando de assunto – Os destinos mais frequentes de quem parte pra ignorância são três: hospital, delegacia, funerária.
3 – Som na caixa – “Ê, meu irmão, me traz Iemanjá prá mim”, Vinicius de Moraes
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TURISMO - 19/12/2024